VIH: Especialistas defendem avaliação do risco cardiovascular

29 de Abril 2021

Especialistas alertam para a importância de avaliar o risco cardiovascular dos doentes infetados com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), no âmbito de uma análise dos riscos e benefícios da HAART.

No artigo “Patologia cardiovascular associada ao vírus da imunodeficiência humana”, publicado na Revista Portuguesa de Cardiologia, Luísa Amado Costa e Ana G. Almeida abordam a epidemiologia, etiopatogénese, diagnóstico, prognóstico, abordagem e terapêutica das doenças cardiovasculares associadas à SIDA. Este trabalho, disponível online, revisita vários estudos e diferentes autores e deixa várias indicações para o combate contra o VIH.

Como referem as especialistas, esse combate mudou com a introdução da “Highly Active Antiretroviral Therapy” (HAART). “A HAART modificou o curso da doença, com o prolongamento da sobrevivência dos doentes infetados pelo VIH” e a redução de complicações como a miocardite. Mas, por outro lado, “tem sido associada ao aumento da prevalência de doenças arteriais periféricas e coronárias”.

As investigadoras mostram os bons resultados e os problemas da terapêutica antirretroviral, mas clarificam: “os benefícios da ART [terapêutica antirretroviral] continuam a superar o risco cardiovascular aumentado associado a este tratamento, e as preocupações sobre o risco coronário não devem impedir os indivíduos VIH positivos de receber a ART”.

Especificamente, a HAART aumentou a longevidade dos doentes infetados com VIH, “transformando a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) numa doença crónica”, mas não se pode descurar os efeitos a longo prazo que acompanham esse aumento da esperança de vida, como a doença cardiovascular, para a qual as investigadoras dirigem a sua atenção.

“Vários fatores de risco cardiovascular podem ser induzidos ou fortalecidos pela HAART”, continuam as autoras, que mencionam também a lipidistrofia e a diabetes. Apesar da ART não ser unanimemente reconhecida como um fator de risco para a diabetes, vários estudos relatam um aumento da sua prevalência com determinados antirretrovirais e a exposição prolongada ao tratamento.

De acordo com as conclusões das autoras, os doentes infetados pelo VIH, especialmente aqueles sob ART, têm um risco acrescido de doença cardiovascular, particularmente enfarte agudo do miocárdio e doença coronária, em comparação com indivíduos que não estão infetados, sendo que há ainda estudos que mostram uma maior frequência de eventos vasculares em adultos infetados sob ART em comparação com os não tratados (embora existam estudos que discordam). Outras investigações revelam um aumento da frequência do enfarte agudo do miocárdio com a exposição mais prolongada a determinados antirretrovirais.

“Deve-se considerar evitar o uso de abacavir, ritonavir/lopinavir e ritonavir/fosamprenavir em pessoas com alto risco de doença cardiovascular porque esses regimes têm sido associados, nalguns estudos, a um aumento do risco de eventos cardiovasculares”, dizem as investigadoras.

Luísa Amado Costa e Ana G. Almeida recomendam, por último, a avaliação do risco cardiovascular dos doentes infetados pelo VIH, “de modo a identificar aqueles em alto risco e implementar medidas preventivas”.

Informação bibliográfica:

Amado Costa L, Almeida AG. Patologia cardiovascular associada ao vírus da imunodeficiência humana. Rev Port Cardiol. 2015;34:479-491

Edição Rita Antunes/HN

 

 

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