O estudo “Populações Migrantes e Covid-19: perceções sobre o impacto da pandemia”, que envolveu 1.096 migrantes residentes na Área Metropolitana de Lisboa, de diferentes nacionalidades e condições socioeconómicas, procurou analisar as perceções destas comunidades sobre o impacto da pandemia nas condições de vida e de saúde, refere em comunicado a ENSP da Universidade Nova de Lisboa.
Desde o início da pandemia, 55,8% dos migrantes viu os seus rendimentos mensais diminuídos, 53% sofreu um impacto negativo na sua atividade profissional e 32,4% estão em situação de desemprego, referem os dados recolhidos por entrevista presencial entre agosto e dezembro de 2020.
Mais de metade (55,8%) perceciona uma pior condição financeira comparativamente ao período anterior à pandemia e 27,5% uma pior situação alimentar.
Mais de 65% das pessoas com rendimentos mensais inferiores a 650 euros reportaram agravamento da situação laboral e dos rendimentos mensais, comparativamente a 37,9% e 42%, respetivamente, das que auferem entre 650 e 999 euros ou 27,7% e 29,4% das que têm rendimentos iguais ou superiores a mil euros.
Também 32,7% das pessoas com menor nível de escolaridade reportaram agravamento da situação alimentar em casa, face a pessoas mais escolarizadas – ensino secundário (28%) e ensino superior (22,3%).
Os dados mostram também desigualdades de género, sendo as mulheres quem mais refere estar desempregada ou a trabalhar a tempo parcial (51,7%) comparativamente a 40,5% dos homens, com 60,4% a referirem uma diminuição dos seus rendimentos mensais (50,9% nos homens).
São as mulheres migrantes quem mais reporta “um impacto negativo na sua situação laboral, financeira e alimentar”, principalmente quem aufere menos de 650 euros mensalmente, tem menor nível de escolaridade e está em situação irregular.
Também se verificou “um agravamento das condições de vida em grupos de migrantes em situação irregular”, com aproximadamente dois em cada três a relatar uma pior situação financeira e 66,7% um agravamento nos rendimentos mensais face a 53% que estão em situação regular.
A pandemia também veio potenciar situações de estigma e discriminação, com 23% dos inquiridos a apontar um agravamento desta experiência”, especialmente sobre os que estão em situação irregular no país.
Questionados sobre o estado de saúde, 19,8% disse que a sua condição piorou com a pandemia. Nas mulheres, 24,2% reportou nesse sentido, comparativamente a 15,1% dos homens, 36,4% dos idosos, face a 16,4% dos jovens até aos 25 anos, e 22,9% dos migrantes com rendimento mensal inferior a 650 euros comparativamente a 14,7% dos que ganham mais de 1.000 euros.
O estudo conclui que “os efeitos desproporcionais da pandemia sobre alguns grupos de migrantes possam ter intensificado desigualdades sociais e de saúde, com potencial impacto na sua integração e no seu bem-estar”, prevendo que, nos próximos tempos, as fragilidades socioeconómicas já existentes se possam manter.
Para a coordenadora do estudo, Sónia Dias, “é crucial intensificar os esforços nas estratégias de ação dirigidas a estas populações para mitigar os efeitos da pandemia nas suas condições de vida e de saúde, com enfoque na resposta às necessidades dos grupos mais vulneráveis”.
Apesar do agravamento das condições de vida, 17,1% reconhece uma melhoria do apoio recebido por parte das organizações da sociedade civil durante a pandemia.
Segundo dirigentes e técnicos de associações de apoio a imigrantes que colaboraram no estudo, as comunidades migrantes com quem intervêm já lidavam com “múltiplas vulnerabilidades, e a pandemia veio agravar essa realidade”.
Contaram que várias pessoas sentiram o seu contexto tornar-se ainda mais precário, muitas ficaram sem trabalho e outras viram os seus rendimentos reduzidos, tendo assistido “a uma grande procura de apoios para alimentação, emprego, habitação” e questões relacionadas com a legalização.
Em 2019, a população estrangeira representava 10,8% do total da população residente em Portugal.
LUSA/HN
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