Aplicação para prevenir doença arterial periférica vai abranger 120 doentes no Porto

13 de Maio 2021

Investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), no Porto, desenvolveram uma aplicação móvel para prevenir e tratar a Doença Arterial Periférica que vai abranger 120 doentes do Centro Hospitalar Universitário do Porto.

Em comunicado, o instituto explica hoje que a tecnologia foi desenvolvida no âmbito do projeto WalkingPAD, cujo objetivo é estudar e desenvolver um programa de exercício em ambulatório para a educação e corresponsabilização dos pacientes com Doença Arterial Periférica (DAP).

A Doença Arterial Periférica é caracterizada por uma deficiência do fluxo sanguíneo para as artérias das pernas devido à doença aterosclerótica, tendo como principal consequência a presença de sintomas característicos de falta de sangue.

A DAP dos membros inferiores é uma doença cardiovascular que afeta 27 milhões de pessoas na Europa e nos Estados Unidos da América, estimando-se que um quinto das pessoas com mais de 60 anos tenha a doença.

Se não for tratada atempadamente, a DAP pode levar à amputação dos membros inferiores.

Além do INESC TEC, o projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pelo programa Norte2020, integra também o Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP) e o Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento (CIDESD) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A tecnologia agora desenvolvida, acessível através de uma aplicação móvel e complementada com uma plataforma web, integra sistemas de localização geográfica, permitindo “criar e supervisionar um plano de exercício individualizado para cada doente”, semelhante aos programas de reabilitação hospitalares.

Com supervisão remota, a aplicação torna-se “atrativa” ao permitir que o programa de reabilitação seja feito no “ambiente familiar do doente”, sendo que o objetivo é também aumentar a adesão dos pacientes ao exercício físico.

Citado no comunicado, o investigador Hugo Paredes, do INESC TEC, afirma que a utilização de algoritmos de inteligência artificial para a descoberta de padrões no caminhar na DAP “aufere ao WalkingPAD a capacidade de recomendar paragens aos doentes quando a dor claudicante se intensifica, evitando situações extremas”.

Já a investigadora Catarina Abrantes, do CIDESD, acrescenta que as novas tecnologias de captura e processamento de dados “possibilitam uma monitorização personalizada da dose da caminhada em cada sessão de exercício e em cada semana”.

De acordo com o INESC TEC, a nova estratégia terapêutica centrada – a tecnologia WalkingPAD – vai abranger 120 doentes do Centro Hospitalar Universitário do Porto, contribuindo assim para que “o exercício passe a ser prescrito como uma ferramenta fundamental, não só na intervenção, mas também na prevenção da doença física ou mental”.

Também citada no documento, a cirurgiã vascular do CHUP e responsável pela implementação da nova tecnologia, Ivone Silva, afirma ser necessário “melhorar a aposta na prevenção da progressão da doença”, investindo em programas de reabilitação.

“A grande vantagem do WalkingPAD face a outros programas é a de ser um programa participativo de exercícios atrativos por serem feitos num ambiente familiar, personalizados, eficazes, de baixo custo e risco, superior ao realizado a nível hospitalar”, salienta.

Paralelamente, a psicóloga clínica e gestora do projeto, Susana Pedras, adianta que com a tecnologia não se pretende “apenas que o doente adote um novo comportamento, mas, sobretudo, que mantenha o comportamento a longo prazo”.

“Estes doentes são, na generalidade, pessoas sedentárias que, devido à dor, evitam qualquer tipo de atividade física”, refere.

Ainda que a DAP seja uma doença crónica, existem tratamentos para a diminuição e controlo das limitações causadas pelos sintomas que envolvem o controlo dos fatores de risco e um programa de exercício físico regular, como a caminhada.

Se os tratamentos forem cumpridos, o número de doentes a necessitar de tratamento cirúrgico diminui significativamente, bem como os custos pessoais, socioeconómicos e de hospitalização com a morbilidade e mortalidade associadas à doença.

LUSA/HN

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