Daniel Luís: “O nosso teste genético serve como ferramenta para o nutricionista desenvolver um plano personalizado”

05/13/2021
Em resposta às necessidades dos doentes e nutricionistas uma equipa de investigadores portugueses desenvolveu um novo teste genético que ajuda a emagrecer. O investigador Daniel Luís revela que o teste MyNutriGenes analisa, através da saliva, 75 genes e 102 marcadores genéticos que permitem definir novas estratégias na dieta. A nova ferramenta poderá ajudar a prevenir doenças como a obesidade, diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. 

12HealthNews (HN)- Desenvolveu um novo teste genético que permite perceber se a pessoa tem mais tendência para ganhar peso e como reage à ingestão de alguns nutrientes. Podemos olhar para este teste como uma ferramenta de combate à obesidade?

Daniel Luís (DL)- Sim porque aquilo que o teste nos permite conhecer é, a nível metabólico, se o indivíduo tem uma tendência maior para ter excesso de peso e para a acumulação de gordura na região abdominal. Portanto, dessa forma é possível atuar preventivamente para que nunca se desenvolva uma situação de obesidade. 

Existem estudos, com amostras elevadas, que demonstram que os indivíduos que têm risco genético mais elevado para a obesidade são os que beneficiam mais de melhorar a qualidade da dieta. Ou seja, é possível mitigar o risco, conferido pela genética, através dos comportamentos.

HN- Existem outros testes disponíveis no mercado com os mesmos objetivos. O que distingue este dos outros?

DL- Em primeiro lugar, o painel genético foi construído com base numa revisão da literatura muito grande – analisamos mais de 400 artigos científicos. Trabalhamos em estreita colaboração com nutricionistas para perceber que tipo de ferramenta é que seria mais útil para eles. Utilizamos ainda scores (modelos de pontuação), com um algoritmo proprietário que desenvolvemos e que permitem traduzir um resultado numa barra mais ou menos preenchida. Portanto, quando as pessoas olham para o teste é muito fácil de perceber o resultado. Nem sempre é fácil conseguir traduzir resultados individuais num resultado conjunto e integrado.

Além de tudo isto aquilo que distingue os nossos testes é a clareza com que apresentamos a informação. Existem muitos testes que escondem ou omitem algumas partes da informação… Muitas vezes não é claro que tipo de marcador é que está a ser avaliado. No nosso relatório tornamos tudo claro e, portanto, disponibilizamos a informação toda.

HN- Mencionou o facto de terem consultado vários nutricionistas. Significa que para além de oferecer mais informação ao paciente sobre si próprio o teste permite um tratamento personalizado?

DL- A ideia é mesmo essa. O nosso teste genético serve como ferramenta para o nutricionista conseguir desenvolver um plano mais personalizado. Isto não quer dizer que o teste dispense todas as outras análises que são requeridas por um nutricionista, mas fornece uma nova camada de informação que permite conhecer melhor a pessoa que temos a nossa frente e personalizar o plano de intervenção. 

HN- O teste avalia ainda a reação do paciente à cafeína e às restrições do sono. Correto?

DL- Sim. O teste permite perceber se a pessoa metaboliza a cafeína mais lentamente ou mais rapidamente, o que depois tem implicações nos níveis de ansiedade. 

Por outro lado, o teste analisa o impacto da restrição do sono. Há pessoas que têm uma reação pior do que outras. Isto a nível de gestão de peso e metabólico vai ter um impacto.

HN- Qual o potencial deste teste na prevenção de outras doenças associadas à obesidade?

DL- Os parâmetros estudados no teste informam acerca da necessidade de atuar, através de diferentes estratégias, para mitigar o risco da resistência à insulina (que contribui para a diabetes tipo 2), melhorar o perfil lipídico, prevenir ou reverter a esteatose hepática não alcoólica e prevenir a hipertensão arterial associada à sensibilidade ao sal, na medida em que é avaliada a resposta à ingestão de sódio.

HN- A equipa desenvolveu ainda uma aplicação com a qual, a partir de um telemóvel, a pessoa pode ter acesso aos seus dados e a uma lista de alimentos. Como funciona?

DL- Não é exatamente uma aplicação. É uma web app. A pessoa pode ver os resultados através de um browser. A apresentação dos resultados está pensada para ser vista no telemóvel e no computador. Só é necessário apontar o telemóvel ou tablet para o relatório, que tem QR Code, e abre a web app. Esta mostra o resumo do perfil genético. Portanto, não tem toda a informação detalhada porque isso permitiria identificar a pessoa e tendo em conta o regulamento da proteção de dados essa informação é omissa. Desta forma o paciente pode ver na web app o score para cada parâmetro e depois para cada parâmetro, clicando na pontuação, é possível ler os resultados. 

Por outro lado, na web app é apresentada uma lista de alimentos que são ricos nos determinados nutrientes.

HN- O teste já está a ser utilizado internacionalmente? 

DL- Sim. O teste já está disponível em vários países da Europa e também vendemos para o Brasil. 

Entrevista de Vaishaly Camões

1 Comment

  1. Teresa Teixeira

    Ontem passaou no Portugal em direto durante a entrevista ao investigador Daniel Luis que iria decorrer uma palestra sobre o tema no dia 16 de Maio as 16h na Biblioteca Orlando Ribeiro. A Junta de Freguesia do Lumiar que é responsável pelo auditório informa que não haverá nenhuma palestra. Será possivel esclarecer esta informação? Antecipadamente grata
    Teresa Teixeira

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Secretária de Estado visita ULS Coimbra e valida plano de inverno

A Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, visitou hoje a ULS de Coimbra, onde conheceu as obras de requalificação da urgência e o plano de contingência para o inverno 2024/2025, que já apresenta resultados positivos na redução de afluência

Violência doméstica: Cova da Beira apoiou 334 vítimas

O Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica e de Género da Cova da Beira acompanhou, este ano, 233 casos de adultos na Covilhã, Fundão e Belmonte, e 101 crianças e jovens, num total de 334 pessoas.

MAIS LIDAS

Share This