“Numa altura em que os cidadãos mais precisavam de nós, o Governo fracassou. Quero dizer a todas as famílias dos que morreram desnecessariamente que lamento os erros cometidos e pelos meus próprios erros”, disse Cummings.
O ex-assessor, que comparece desde as 08:30 perante as comissões parlamentares no Parlamento britânico que analisam a gestão da crise sanitária, desde março de 2020, disse que tanto deputados como ministros, funcionários e assessores “falharam desastrosamente no momento em que deveriam cumprir os padrões que os cidadãos têm o direito de esperar”.
Cummings, que também foi diretor da campanha da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), disse que se arrepende de não ter insistido mais nos preparativos para enfrentar a pandemia no mês de janeiro de 2020, acrescentando que até finais de fevereiro do mesmo ano não se apercebeu de que os planos contra a crise sanitária eram “superficiais”.
Para Dominic Cummings, envolvido em 2018 no escândalo “Cambridge Analytica” sobre o uso de dados pessoais na internet para fins políticos, disse que o Executivo “não atuou como se a Covid-19 fosse o assunto mais importante do mês de fevereiro” de 2020.
“Muito menos em janeiro”, acrescentou.
“É óbvio que os países ocidentais, incluindo o Reino Unido, fracassaram completamente no momento em que ‘viram o fumo e ouviram os alarmes’, em janeiro (2020). De isso não há dúvida”, disse.
Desde o passado fim de semana que Cummings divulga, através da rede social Twitter, dados confidenciais da altura em que esteve em Downing Street, onde ocupou o cargo de assessor desde julho de 2019 a novembro de 2020.
Segundo o ex-assessor político, o governo de Boris Johnson pretendia intervir de forma limitada para alcançar a “imunidade de grupo”, informações que o Executivo já negou.
A última mensagem de Cummings no Twitter mostra uma fotografia de um quadro do Governo com notas, datado supostamente do dia 14 de janeiro de 2020, sobre um alegado esboço de um plano para enfrentar a crise.
Da imagem deduz-se, segundo Cummings, que o Executivo tinha um “‘Plano B’ mais agressivo” para enfrentar a crise sanitária e que contemplava o “confinamento total” antes do “colapso” do sistema de saúde público britânico.
Cummings deve pronunciar-se no Parlamento sobre os confinamentos sucessivos, políticas relacionadas com fronteiras e as mensagens que foram dirigidas ao público britânico durante os meses mais dramáticos da crise sanitária.
Muitos destes temas são potencialmente delicados para Boris Johnson, que foi várias vezes criticado pelas medidas adotadas e que é acusado por estar a tirar dividendos políticos da atual campanha de vacinação no Reino Unido.
Em seis meses, 72% dos adultos residentes no país receberam a primeira dose da vacina.
O Reino Unido é o país da Europa mais afetado pela pandemia de SARS CoV-2 lamentando até ao momento 128 mil mortos.
O jornal The Times, citando um “amigo” de Cummings, refere hoje que, com a aproximação da data da audição que ainda decorre, o ex-conselheiro disse que pretendia “vingar-se” e que não vai desistir até que Boris Johnson seja obrigado a demitir-se.
Desconhecem-se eventuais novos argumentos ou informações que Cummings diz possuir e resta saber qual o crédito que os britânicos lhe conferem.
De acordo com a sondagem YouGov, publicada no sábado passado no Times, apenas 14% dos eleitores acreditam em Cummings, contra 38% dos inquiridos que afirmam confiar no primeiro-ministro.
Para os cidadãos britânicos, o nome de Dominic Cummings está também irremediavelmente associado ao escândalo noticiado durante um dos confinamentos de 2020, numa altura em que o ex-assessor se deslocou para o norte de Inglaterra para se reunir com a família, não respeitando as regras impostas pelas medidas restritivas.
Na altura, Cummings justificou-se numa conferência nos jardins de Downing Street, tendo sido apoiado por Boris Johnson, que assim revelou o “peso político” do assessor no Executivo.
LUSA/HN
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