Menos 40% de casos de cancro no IPO-Porto e risco 50% maior de morte

28 de Maio 2021

Um estudo sobre o impacto da pandemia no diagnóstico e tratamento dos doentes oncológicos registou uma diminuição de cerca de 40% de casos no IPO-Porto e verificou, entre os tumores com pior prognóstico, um risco 50% maior de morte.

Em declarações hoje à Lusa, a diretora do Serviço de Epidemiologia do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto), Maria José Bento, afirmou que se registou “uma diminuição de quase 40% no número absoluto de casos de cancro diagnosticados no período mais recente, com maior impacto nos cancros do colo do útero (menos 74% casos) e próstata (menos 72% casos)”.

O estudo científico para avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 no diagnóstico e tratamento dos doentes oncológicos foi realizado pelo Serviço de Epidemiologia do IPO-Porto, em parceria com a Unidade de Investigação em Epidemiologia do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

A investigação, que já foi aceite para publicação na revista científica European Journal of Cancer Prevention, teve como amostra os doentes do IPO-Porto diagnosticados entre março e junho de 2019 e 2020, ou seja, antes e depois da pandemia, respetivamente.

A epidemiologista referiu que as características dos casos incidentes em 2020 são diferentes das dos casos de 2019.

Em 2020, verificou-se menor proporção de homens, menor referenciação de doentes provenientes de outros hospitais, diminuição da proporção de cancros detetados por rastreio organizado (como os cancros do colo do útero, mama e colorretal), mais casos sintomáticos, maior proporção de estadios avançados e também maior proporção de casos não tratados, quando comparado com os casos diagnosticados em 2019, sustentou.

Num outro estudo da mesma equipa, já publicado no International Journal of Cancer, sobre a mortalidade a curto prazo entre os mesmos grupos de doentes oncológicos, verificou-se que os doentes diagnosticados no período mais recente tinham um risco 50% maior de morte quando comparados com os doentes de 2019.

De acordo com Maria José Bento, “estas diferenças pré/pós pandemia podem ser explicadas, em parte, pelas alterações no perfil dos doentes diagnosticados em cada período. Mas, independentemente desse facto, a maior mortalidade verificou-se entre os doentes em estadio III (mais avançado) e nos submetidos a cirurgia e radioterapia”.

Interrupções e alterações no esquema de tratamento podem também ser possíveis explicações, bem como o pior prognóstico dos doentes.

A metodologia do estudo agora concluído abordou os cancros de esófago, estômago, cólon e reto, pâncreas, pulmão, melanoma, mama, colo do útero, próstata, linfoma Não-Hodgkin e leucemia, com diagnóstico entre 02 de março e 01 de julho de 2019 (antes da pandemia) e 2020 (após a pandemia de Covid-19).

As características sociodemográficas, clínicas e de tratamento foram obtidas a partir do registo de cancro e arquivos clínicos.

Estes trabalhos de investigação receberam financiamento da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB) e da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Apesar dos constrangimentos impostos pela Covid-19, o IPO-Porto afirma, em comunicado, que conseguiu implementar um plano de recuperação e providenciar cuidados de saúde atempadamente, “reduzindo mesmo os tempos desde a primeira consulta até ao diagnóstico, até à primeira consulta de grupo multidisciplinar e diminuição do tempo de espera para o primeiro tratamento, quando comparado com igual período de 2019”.

LUSA/HN

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