Segundo o chefe de Governo, que falava aos jornalistas na cidade belga de Bruges, há que “reverter rapidamente a situação” e delimitá-la à região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se registam atualmente cerca de dois terços dos novos casos positivos, de modo a que Portugal não fique no vermelho na tabela do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC), aquela que os turistas consultam ao planear as suas férias.
Um dia depois de o Conselho de Ministros ter decidido proibir a circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa (AML) aos fins de semana, Costa, que se deslocou hoje a Bruges para participar na cerimónia de encerramento do ano académico «Mário Soares» do Colégio da Europa, renovou o apelo à responsabilidade individual dos cidadãos, e agora em particular os da região de Lisboa e Vale do Tejo, atendendo a que “os números indicam que o problema está concentrado” nesta região.
“E o apelo que eu faço, mais uma vez renovado, a todos aqueles que vivem no concelho de Lisboa, que vivem nos conselhos limítrofes, que vivem na Área Metropolitana de Lisboa, é que tenham em conta estes números. Estes números significam simplesmente uma coisa: não estamos a controlar a pandemia. E não estamos a controlar a pandemia porque os comportamentos não são adequados à realidade da pandemia”, afirmou.
Segundo o primeiro-ministro, “provavelmente as pessoas anteciparam a ideia de que, já tendo [o país] hoje um nível de vacinação muito elevado, tendo felizmente um número de mortos reduzido, e não tendo muitos internamentos, o problema não existe”, mas a verdade, salientou, é que “o problema está lá, o problema existe, e vai aumentando”.
Sublinhando que, atualmente, “dois terços dos novos casos são em Lisboa e Vale do Tejo”, António Costa justificou com esses números a decisão de “conter a expansão da pandemia para o resto do país”, ao limitar a circulação para fora da AML e para dentro da AML ao fim de semana. “Não podemos fazer, obviamente, durante toda a semana porque isso seria muito complicado para o funcionamento do conjunto do país”, complementou.
Questionado sobre se o aumento de casos em Portugal não ameaça a época turística do verão, o chefe de Governo comentou que “as alturas nunca são boas” para o ressurgimento de novos casos, e reforçou o apelo ao comportamento individual dos cidadãos, apontando que já se sabe que “cada vez que se abre, o risco aumenta, e, portanto, quando o risco aumenta, a responsabilidade tem de aumentar”.
“Já andamos nisto há mais de ano e meio, e a resposta é sempre a mesma: quando não abrimos, a crítica é porque não abrimos; quando abrimos, a crítica é por termos aberto. Nós temos de ir adotando em cada momento as medidas adequadas àquele momento”, apontou.
Sobre a ameaça que este aumento de casos representa para o setor turístico português com o verão ‘à porta’, Costa sublinhou que “é por isso que temos de adotar rapidamente estas medidas, de forma a conter o problema.
“Primeiro, [há que] delimitá-lo à região de Lisboa, que é fundamental, para não atingir o conjunto do país. Em segundo lugar, evitar a todo o custo que na classificação do Centro Europeu de Controlo de Doenças [ECDC] nós comecemos a ficar na situação de vermelho, e não na situação de amarelo, onde já estamos. E para que isso aconteça, é preciso rapidamente reverter a situação”, enfatizou.
António Costa diz ter noção de que são muitos em Portugal os que “questionam a matriz” utilizada para classificar as zonas de risco, por entenderem “que é muito exigente”, mas sublinhou que a matriz em causa “é aquela que é utilizada pelo ECDC”, e “quem está a decidir se vai ou não vai passar férias a Portugal é essa classificação que vão consultar”.
“Portanto, não é facilitando a nossa matriz que nós resolvemos o nosso problema. É aumentando o nosso controlo individual dos nossos comportamentos que nós travamos a pandemia”, reforçou.
Comentando em termos mais gerais o facto de Portugal estar a registar uma nova subida de casos, quando a tendência é oposta no resto da União Europeia, António Costa observou que, neste particular, Portugal tem acompanhado mais a tendência verificada no Reino Unido, com quem tem “uma relação muito próxima”.
“Nós desde o início do ano que, de alguma forma, nos separámos da Europa e estamos associados ao Reino Unido. Em janeiro, acompanhámos o Reino Unido naquela primeira grande vaga, com a variante Alpha, que na altura chamava-se variante britânica. Felizmente, tivemos um grande sucesso no controlo dessa vaga, uma grande redução, tivemos muito tempo, aliás, com os melhores resultados à escala global”, começou por recordar.
“Há umas semanas, o Reino Unido começou a aumentar significativamente a presença da variante Delta, que tem estado a crescer a ritmo muito significativo. Nós temos uma relação muito próxima com o Reino Unido e, portanto, neste momento estamos claramente a seguir o Reino Unido. Comparando a evolução da situação de Portugal e Reino Unido com o que acontece no resto da Europa, estamos de novo em contraciclo, desde janeiro que temos estado sempre em contraciclo – quando eles sobem nós baixamos, quando nós subimos eles estão ainda a baixar”, disse.
O primeiro-ministro observou então que, “durante as primeiras vagas o sentido de evolução da pandemia era muito claro – vinha de oriente para ocidente -, mas, desde o início deste ano, com estas variantes, a trajetória da pandemia tem sido inversa: tem começado a ocidente e tem-se alargado a oriente”.
Por fim, e questionado mais uma vez sobre as posições alegadamente divergentes do Governo e do Presidente da República sobre marcha-atrás no processo de desconfinamento, Costa observou que Marcelo Rebelo de Sousa teve “a oportunidade de, agora em Nova Iorque, ter esclarecido uma expressão que terá gerado bastante equívoco”, ao explicar que quando se referia ao que dependesse dele “se referia ao estado de emergência, em que é necessária a intervenção do Presidente da República, portanto não se referia naturalmente àquilo que é a gestão do estado em que estamos, que é o estado de calamidade”.
“E a situação que existe exige que se tome medidas, mas estamos muito longe de exigir voltar a repensar a necessidade de regressar ao estado de emergência”, declarou, concluindo que, por isso, “não vale a pena tentar explorar aqui divisões, divergências entre Governo e Presidente da República”.
“Se houvesse, faz parte da vida, mas não há”, asseverou.
LUSA/HN
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