“A redução da atividade imposta à companhia devido aos bloqueios, fecho de fronteiras e outras restrições face à pandemia de Covid-19, inevitavelmente levará a uma redução no número de trabalhadores”, afirmou o diretor-executivo da CVA, em declarações à Lusa, a propósito do plano da companhia cabo-verdiana para retomar a atividade, ao fim de 15 meses de suspensão devido à pandemia.
“A companhia cumprirá todos os requisitos legais relevantes nos contactos com os sindicatos sobre a melhor forma de abordar essas questões tão delicadas e importantes”, garantiu apenas Erlendur Svavarsson, sem avançar números sobre a redução de trabalhadores da companhia.
O Sindicato Nacional de Pilotos da Aviação Civil de Cabo Verde revelou publicamente nos últimos dias que a CVA pretende reduzir em 40% o total de pilotos da companhia, nomeadamente através de reformas antecipadas e não renovação de contratos.
A CVA previa ter retomado as operações na sexta-feira, com um voo da ilha do Sal para Lisboa e regresso, mas que acabou por ser cancelado após um diferendo com a empresa estatal ASA, que gere os aeroportos e o espaço aéreo cabo-verdiano, que não autorizou a partida. Contudo, até agora, a ASA, a CVA e o Governo cabo-verdiano não prestaram qualquer esclarecimento sobre o assunto.
A companhia contava progressivamente retomar a atividade, inicialmente com voos semanais de Cabo Verde para Lisboa, com um Boeing 757, operação que prevê alargar em julho, com uma segunda aeronave, e voos para Boston e Paris, mas em contraponto com a mais de uma dezena de destinos internacionais que assegurava antes da pandemia, com três aviões e mais de 300 trabalhadores.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
A CVA, em que o Estado cabo-verdiano mantém uma posição de 39%, concentrou então a atividade nos voos internacionais a partir do ‘hub’ do Sal, deixando os voos domésticos.
Em entrevista à Lusa em abril, Erlendur Svavarsson afirmou que a situação financeira da companhia era “especialmente boa”, embora garantido que o Estado cabo-verdiano não injetou qualquer verba, tem apenas apoiado na forma de avales a empréstimos bancários.
“Na verdade [o Estado de Cabo Verde] não injetou qualquer verba, contrariamente aos nossos concorrentes da SATA e da TAP, que continuam a receber contribuições do Estado [português]. O Governo de Cabo Verde tem sido muito diligente com os recursos públicos e não deu qualquer dinheiro à CVA até ao momento. Apenas garantias, o que quer dizer que a companhia está a ter acesso a empréstimos, que agora representam fundos suficientes para dar o próximo passo no processo de refinanciamento da companhia”, sublinhou.
As companhias aéreas SATA e TAP são as únicas que asseguram as ligações regulares das ilhas cabo-verdianas de São Vicente, Sal e Santiago à Europa e aos Estados Unidos, mas ambas estão sob intervenção do Estado português, devido às consequências da pandemia de Covid-19.
O presidente da companhia sublinhou que desde março de 2020 foi possível manter os mais de 300 trabalhadores, embora em regime de ‘lay-off’, através do modelo simplificado criado pelo Governo para apoiar as empresas cabo-verdianas afetadas pela pandemia, além de não terem sido renovados contratos a prazo.
O Governo cabo-verdiano anunciou no final de fevereiro um acordo com a administração da companhia para a retoma das operações, prevendo a renegociação com credores, o que envolve também o grupo Icelandair, que fornece (através da Loftleidir) as aeronaves da companhia.
Na sequência deste entendimento, o Governo cabo-verdiano autorizou em 06 de março o quinto aval do Estado a um pedido de empréstimo de emergência da administração da CVA, de 12 milhões de euros. Com este aval, os financiamentos pedidos pela companhia desde novembro, com garantia do Estado, elevam-se a quase 20 milhões de euros, segundo cálculos da Lusa.
O novo acordo com o Governo cabo-verdiano prevê a redução de três para duas aeronaves e a retoma a curto prazo dos voos para Portugal e EUA, para servir a comunidade cabo-verdiana. Em contrapartida, o Estado reforça a posição no conselho de administração, passando a ter poder real de decisão.
lusa/h
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