“Estamos a experienciar, no Serviço de Urgência, o mesmo fenómeno que observámos na primeira e na segunda vagas que foram as mais significativas na região Norte”, disse o diretor da Unidade Autónoma de Gestão (UAG) de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Nelson Pereira.
E aos “cerca de 40%” de aumento do número de doentes suspeitos que estão a recorrer ao Serviço de Urgência deste hospital do Porto, o responsável acrescenta preocupação com a subida da taxa de positividade.
“Passou de 1% a 2% – algo que vínhamos mantendo nos últimos meses de forma muito estável – para cerca de 15% nos últimos cinco dias. E está em crescimento”, disse o médico.
Em jeito de alerta quer para as estruturas que têm como missão dar resposta quando existe um caso suspeito quer para a população, Nelson Pereira também alertou para “a mudança muito rápida do padrão de procura” que diz estar a assistir na região Norte e contou que o dia de ontem foi “paradigmático” nesse aspeto face aos relatos que foram feitos pelos doentes.
“O crescimento parece estar a ser explosivo e as estruturas que tiveram montadas para dar resposta a estas situações talvez estejam agora um bocadinho perras e com dificuldade em acompanhar este crescimento rápido. Mas ou se agarra o processo desde o princípio e se põe um travão, ou a situação dispara e o problema torna-se cada vez mais complexo”, referiu.
Em causa, por exemplo, os cuidados de saúde primários e a linha SNS14.
À Lusa, Nelson Pereira contou que vários doentes chegaram ao Hospital de São João a contar que procuraram ajuda junto do médico de família devido ao aparecimento de sintomas, mas nas ADR [Áreas dedicadas a Doentes Respiratórios] só existia vaga dentro de dias.
“Isso é insustentável”, considerou o diretor da UAG do CHUSJ.
Outro caso relatado prende-se com doentes que dizem ter feito autoteste nas farmácias e perante um resultado positivo, terão ligado para a linha SNS24, mas relatam ter passado vários dias sem novo contacto.
“Isto é muito preocupante porque a nossa experiência diz-nos que estamos num crescimento exponencial. E creio que a situação vai aumentar nas próximas semanas porque as Festas de São João certamente produzirão efeitos nocivos. Houve muita confraternização e muitas festas ainda que em casa. Houve muitos contactos”, antecipou Nelson Pereira.
Face a estes números, o médico aproveitou para deixar alertas e mensagens: “É preciso que todas as estruturas estejam muito coordenadas e ativas para não deixar derrapar o controlo. E as pessoas ao mínimo sintoma têm de entrar em autoisolamento e contactar os serviços de saúde para imediata testagem. Não é possível, neste momento, cada pessoa achar que qualquer sintoma – tosse, dores musculares, etc. – possa ser outra coisa que não covid-19”.
Segundo Nelson Pereira, ao Hospital de São João também têm chegado doentes estrangeiros infetados “em número elevado” e de várias nacionalidades, como indianos, brasileiros e marroquinos.
O médico mostrou preocupação com o facto de estes doentes “eventualmente” estarem a ter um “suporte menor” e com “a dificuldade do sistema em acompanhá-los, porque muitos deles não têm número de utente”, o que “coloca questões administrativas que dificultam o seu seguimento”.
Num hospital que atualmente tem internadas 14 pessoas infetadas com o novo coronavírus em cuidados intensivos e oito em enfermaria, “a capacidade de resposta já está a ser multiplicada”, contou Nelson Pereira, admitindo que os contentores e a tenda que permanecem no exterior do Serviço de Urgência, mas atualmente não estão a ser usados, nunca foram desmontados e “poderão vir a ser ativados”.
“É verdade que a taxa de internamento é mais baixa do que em outras alturas, mas isso seria de esperar porque a vacina está a fazer o seu papel, mas também é verdade que a situação é preocupante”, frisou.
LUSA/HN
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