“Em 2020, tivemos 1.230 enfermeiros a emigrar”, totalizando 20 mil enfermeiros portugueses emigrados no estrangeiro”, disse Ana Rita Cavaco aos jornalistas, após ter recebido a primeira dose da vacina Pfizer/BioNtech contra a Covid-19 no pavilhão 3 da Cidade Universitária, em Lisboa, que está a funcionar como “casa aberta”.
A bastonária manifestou o desejo de que os três mil enfermeiros que estão a sair para o mercado de trabalho possam ajudar os profissionais que estão no combate à Covid-19, sobretudo, na vacinação.
Para isso, apelou ao Governo para os contratar e não os deixar emigrar novamente.
Contudo, admitiu ser difícil competir com as ofertas que os países, sobretudo europeus que estão também com falta de enfermeiros, estão a fazer aos enfermeiros Portugueses
“Portugal está a oferecer, para fazer uma comparação, bolachas de água e sal aos enfermeiros e os países estrangeiros estão a oferecer caviar”, comentou Ana Rita Cavaco, explicando que em termos de salários pagam “três e quatro vezes” mais.
Segundo a bastonária, estes países têm técnicas de contratação “muito agressivas, com ordenados elevados, mas não só: pagam-lhes formação, dão-lhes contratos estáveis, pagam-lhes casa”.
“Às vezes não é só a questão do dinheiro, as pessoas querem estar no seu país, querem estar junto da sua família, mas pagam-lhe a formação, têm perspetivas de evolução de carreira e têm um vínculo duradouro”, sustentou.
Em Portugal, observou, os enfermeiros ainda pagam a especialidade “do seu bolso” porque o Governo ainda não negociou com a Ordem dos Enfermeiros o internato para fazerem a especialidade.
Salientou que, no âmbito do combate à pandemia, “foi terrível” a negociação com o Governo, porque no início como ninguém sabia que ia acontecer “pensaram que podiam usar os enfermeiros e a seguir deitar fora”.
“Entretanto, já lá vai um ano e meio e tem sido muito complicado e há de facto muitos enfermeiros acusar um stress muito elevado e um cansaço muito grande”, adiantou.
A este propósito, referiu que, em 2020 e 2021, se baterem “todos os recordes de horas extraordinárias dos últimos anos”, sobretudo, nos enfermeiros.
“Isso aconteceu porque nós entramos numa pandemia com um número de enfermeiros por mil habitantes dos mais baixos dos países da OCDE”, vincou.
Questionada sobre a razão de ter recorrido à modalidade de vacinação “casa aberta” para tomar a primeira dose da vacina, Ana Rita Cavaco explicou que esteve à espera de que todos os enfermeiros a exercer fossem vacinados.
Houve enfermeiros que tiveram alguns constrangimentos para ser vacinados, desde logo, porque no início da vacinação, infelizmente, muita gente com responsabilidades públicas “furou a fila para ser vacinado”.
“Eu não estou a exercer. Sou enfermeira com inscrição ativa, mas estou a tempo inteiro na Ordem e, portanto, achei que os meus colegas, a maioria deles também nos centros de vacinação, tinham que ter esse problema resolvido antes de eu ser vacinada”, explicou.
Quando foi de férias, a 15 de julho, restavam seis profissionais nestas condições, uma situação já resolvida e, como tal, disse: “foi a minha vez”.
LUSA/HN
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