“O conselho de administração [do Centro Hospitalar de Setúbal] não tem assumido, com clareza, a necessidade de contactar o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] e de informar a população que não tem recursos e tenta mascarar e pôr a cabeça debaixo da areia para uma situação que pode pôr em risco a saúde de uma mãe ou de um bebé na altura do parto”, afirmou o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço.
Em declarações à agência Lusa, o representante dos médicos disse que a urgência de obstetrícia precisa “no mínimo de três especialistas presentes” para poder funcionar aberta ao exterior e com partos, no entanto, “em casos excecionais, a Ordem permite que haja dois especialistas e um interno dos últimos anos”.
“Não há, neste momento, segurança dentro da maternidade de Setúbal caso as equipas de urgência não tenham três pessoas”, reforçou Alexandre Valentim Lourenço.
Na quarta-feira, a urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo esteve encerrada desde as 09:00, situação que se prolongou por 24 horas, ou seja, até às 09:00 de hoje, devido à falta de médicos desta especialidade, informou à Lusa fonte do centro hospitalar, assegurando que o CODU foi informado sobre a situação e o devido encaminhamento das grávidas.
O gabinete de comunicação do Centro Hospitalar de Setúbal disse ainda que se tratou de “uma questão pontual, por falta de recursos humanos”, e que “os hospitais da Península de Setúbal trabalham de forma articulada”, pelo que as grávidas foram encaminhadas para os outros dois hospitais da região, designadamente o Hospital Garcia de Orta, em Almada, e o Centro Hospitalar Barreiro/Montijo.
De acordo com o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, o encerramento por 24 horas da urgência de obstetrícia deve-se à falta de médicos nos quadros do Hospital de São Bernardo, o que tem levado o centro hospitalar a recorrer a tarefeiros, mas “nos períodos de férias ou nos períodos de maior aperto não se consegue ter equipas que garantam a segurança dos doentes”.
Alexandre Valentim Lourenço adiantou que a situação de encerramento desta urgência “é prevista ainda se repetir mais vezes durante o mês de agosto, porque as escalas não estão completas e os tarefeiros no mês de agosto não estão disponíveis para ir ao hospital com a mesma frequência”.
“Já aconteceu várias vezes as escalas não estarem completas e o que existe é um grande sacrifício dos poucos médicos do serviço em fazer bancos consecutivos. Nesta semana, o diretor de serviço para tapar estes buracos nas escalas tem de fazer três urgências de 24 horas, ou seja, está 24 horas a trabalhar dia sim dia não, e isto não garante os três elementos, garante apenas dois”, expôs o representante dos médicos.
Neste âmbito, a Ordem dos Médicos considerou que a situação “não é aceitável”, afirmando que “não pode permitir que a urgência esteja aberta ao exterior, recebendo partos, porque não garante às grávidas que queiram ter bebé no Hospital de Setúbal a sua segurança”.
“É essencial que nesses dias em que a escala não está assegurada seja encerrada a urgência, sendo depois encaminhadas as mulheres [grávidas] para os dois hospitais que costumam dar apoio”, frisou o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos.
Além da urgência obstétrica, a situação de “rutura” afeta a especialidade de pediatria na Península de Setúbal, porque “não há capacidade de os hospitais fixarem os profissionais, porque pagam pouco e dão más condições de trabalho”.
“É inadmissível que ao fim de três anos de estarmos a levantar estes problemas, de termos tido a crise das maternidades há dois anos e meio, antes da pandemia, quando agora acaba a pandemia e olhamos: não está tudo na mesma, está pior, ainda há menos médicos nas escalas, e parece que a pandemia tem servido de desculpa para uma inação de tomadas de decisões que melhoram a saúde das populações”, declarou Alexandre Valentim Lourenço.
Já em 17 de fevereiro de 2020, a Ordem dos Médicos alertou para a possibilidade de encerramento da urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, devido à saída de cinco médicos daquele serviço no final desse ano.
LUSA/HN
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