“De um quadro de pessoal que deveria estar dimensionado para 23 médicos, apenas existem 11. Desses, oito têm mais de 55 anos, mas continuam solidariamente a fazer urgências”, indicou o SIM, em comunicado, revelando que está previsto que até ao fim deste ano se aposentem cinco médicos.
Na quarta-feira, a urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo esteve encerrada desde as 09:00, situação que se prolongou por 24 horas, ou seja, até às 09:00 de hoje, devido à falta de médicos desta especialidade, informou à Lusa fonte do centro hospitalar.
O gabinete de comunicação do Centro Hospitalar de Setúbal disse ainda que se tratou de “uma questão pontual, por falta de recursos humanos”, e que “os hospitais da Península de Setúbal trabalham de forma articulada”, pelo que as grávidas foram encaminhadas para os outros dois hospitais da região, designadamente o Hospital Garcia de Orta, em Almada, e o Centro Hospitalar Barreiro/Montijo.
Para o SIM, que “tem alertado, repetidamente, os responsáveis” sobre a falta de médicos na urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, “a situação é crónica” e, apesar dos sucessivos avisos, “o problema não só se mantem como se tem agravado”.
“A administração tem-se manifestado disponível para contratar médicos. Mas não há interessados”, apontou esta organização sindical médica.
Em comunicado, o SIM referiu ainda que “há muita oferta de múltiplos hospitais” e que “o SNS [Serviço Nacional de Saúde] não tem possibilidade de competir com os hospitais privados e PPPs [parcerias público-privadas] na contratação dos novos especialistas”.
“Com as condições atuais de oferta do SNS, os concursos de Ginecologia/Obstetrícia no Hospital de Setúbal têm ficado desertos, pela baixa remuneração oferecida e pela sobrecarga de trabalho provocada por uma equipa reduzida em elementos. A quem interessa esta situação?”, questionou o sindicato.
Em 17 de fevereiro de 2020, a Ordem dos Médicos alertou para a possibilidade de encerramento da urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, devido à saída de cinco médicos daquele serviço no final desse ano.
“O serviço de obstetrícia está em perigo de desaparecer, em termos de urgência e não só. De nove médicos, cinco vão-se embora no final do ano. As idades dos médicos, em geral, são muito elevadas, passam os 55 anos”, disse Daniel Travancinha, do Conselho Sub-Regional de Setúbal da Ordem dos Médicos.
Daniel Travancinha falava aos jornalistas no final de uma reunião com a direção clínica do Hospital de São Bernardo, em que também participou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, e na qual foram abordados alguns problemas, como as agressões a médicos e a necessidade de ampliação daquela unidade hospitalar.
Segundo o bastonário, Miguel Guimarães, “a obstetrícia e a ginecologia, se nada for feito nos próximos três ou quatro anos, vai ter de fechar a urgência externa, sendo que este ano [2020] já existem dias em que a urgência está fechada por falta de médicos”.
LUSA/HN
0 Comments