Vice-governadora desde 2015, Kathy Hochul irá subir no cargo e tornar-se 57.ª governadora de um Estado que tem quase 19,5 milhões de habitantes (mais do que as populações de Portugal e Suíça juntas) e que é o centro financeiro e comercial dos Estados Unidos da América.
A mudança ocorre na sequência da demissão de Andrew Cuomo, governador há dez anos, por acusações de assédio sexual.
Kathy Hochul toma posse na terça-feira, com uma cerimónia oficial privada marcada para as 00:01 locais (05:01 em Lisboa). No primeiro dia, a governadora deverá reunir-se com legisladores estaduais e, posteriormente, discursar na televisão.
Cumpre-se assim a principal função de ‘lieutenant governor’, vista tipicamente como um cargo simbólico e cerimonial, para substituir o governador em caso de ausência, morte, destituição ou demissão.
“Como alguém que serviu em todos os níveis de governo e é próximo na linha de sucessão, estou preparada para liderar como 57.ª governadora do Estado de Nova Iorque”, escreveu Hochul na rede social Twitter, em 10 de agosto, após o anúncio da demissão de Cuomo.
Nascida a 27 de agosto de 1958, Hochul é originária de Buffalo, segunda maior cidade do Estado, na fronteira com o Canadá e a cerca de 500 quilómetros de distância de Nova Iorque.
De educação católica, inclusivamente com um doutoramento em Direito pela Universidade Católica da América, a nova governadora discorda da igreja no tema do aborto ou interrupção voluntária da gravidez (que o Vaticano proíbe). Casada desde 1984 com William Hochul, é mãe de dois filhos.
Inicialmente advogada de profissão, Hochul foi assessora legislativa antes de tornar-se legisladora no governo local de Hamburg, nos EUA, durante 13 anos, de 1994 a 2007.
Uma das principais responsáveis da administração do condado Erie entre 2007 e 2011, Kathy Hochul passou pela Casa dos Representantes dos EUA, em Washington, como congressista federal entre 2011 e 2013, em representação da zona distrital 26 de Nova Iorque.
Foi em 2014 que a veterana política iniciou o caminho de ascensão ao governo estadual de Nova Iorque, quando Andrew Cuomo, que concorria ao segundo mandato como governador, anunciou o nome como parceira de corrida eleitoral e candidata a vice-governadora.
Nos primeiros quatro anos como vice-governadora de Nova Iorque (2015-2019), Kathy Hochul teve responsabilidades no desenvolvimento económico regional e na liderança do grupo de trabalho sobre Abuso e Dependência de Heroína e Opioides.
A antiga legisladora foi também dirigente da campanha de combate ao abuso sexual em ‘campus’ universitários promovida por Andrew Cuomo e dedicou-se aos direitos das mulheres e situação das famílias do Estado.
Em 2018, a vice-governadora terá sido questionada, por conselheiros de Andrew Cuomo, sobre a disponibilidade para se afastar de livre vontade do cargo para concorrer ao Senado federal, escreveu o jornal New York Times.
Isto porque Andrew Cuomo queria concorrer pela terceira vez a governador com um vice-governador com diferentes características, para contrariar críticos. Hochul não cedeu e foi reeleita vice-governadora.
Outro concorrente a vice-governador em 2018, Jumaane Williams declarou, numa entrevista citada pelo jornal New York Times, que o vice deve manter-se vigilante para qualquer desvio do governador e deixou a opinião de que isso não terá acontecido com Hochul e Cuomo.
“Cuomo não poderia ser quem era sem uma estrutura capacitadora”, disse Williams. “As pessoas ajudaram a possibilitar isso, explicitamente ou por meio do silêncio”.
Quando Andrew Cuomo, acusado de assédio sexual a várias mulheres, anunciou a sua demissão, a 10 de agosto corrente, a antiga advogada mostrou-se a favor da decisão e procurou distanciar-se do governador.
“Acho que é claro que o governador e eu não temos estado próximos, nem fisicamente, nem de outras formas”, referiu.
Em 12 de agosto, poucos dias depois de ser dada como sucessora no governo do Estado, Kathy Hochul anunciou a vontade de se recandidatar à liderança em 2022, comprovando a estratégia da declaração de distanciamento do antigo chefe.
A verdade é que Cuomo e Hochul nunca foram vistos como colegas próximos de trabalho, raramente aparecendo em conjunto em eventos públicos.
A primeira governadora de Nova Iorque herda uma situação relativamente controlada da pandemia de covid-19, ainda que preocupante, por o número de casos estar a aumentar no Estado de Nova Iorque – uma média de 4 mil novos casos diários e cerca de 18 mortes por dia.
O governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, demitiu-se face a uma série de acusações de assédio sexual e depois de uma investigação da procuradora-geral de Nova Iorque divulgar que tinha assediado sexualmente pelo menos 11 mulheres.
A pressão e oposição ao governador estavam a aumentar de vários nomes políticos e públicos, incluindo o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que pediam a demissão de Cuomo, juntamente com um processo de destituição (‘impeachment’) que estava a ser preparado pelo poder legislativo do Estado.
Os investigadores indicaram que Cuomo submeteu as mulheres a beijos indesejados, apalpou seios ou nádegas ou tocou-lhes de forma inadequada, fez comentários insinuantes sobre a aparência delas e sobre a sua vida sexual.
Nas conclusões, os investigadores indicaram também que Cuomo criou um ambiente de trabalho “repleto de medo e intimidação”.
LUSA/HN
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