“Não creio que seja necessário, a breve trecho, uma terceira dose de forma generalizada – eventualmente para doentes do sistema imunitário, sim – e, em minha opinião, só faz sentido considerar essa hipótese para uma vacina atualizada”, adiantou à Lusa o investigador do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Segundo disse, a administração generalizada na população de uma dose de reforço com as vacinas que já estão a ser utilizadas é “chover no molhado”, face às novas variantes do coronavírus que provoca a Covid-19, caso da Delta, predominante em Portugal e considerada mais transmissível.
“A imunidade conferida pelas vacinas em uso neste momento durará tempo suficiente para se atualizar, produzir e distribuir as vacinas atualizadas”, defendeu Miguel Castanho.
Já para José Aranda da Silva, especialista em indústria farmacêutica e antigo bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, a evolução da pandemia “será favorável” nos próximos meses, uma vez que os “dados referentes à vacinação são muito positivos”, mas admitiu a possibilidade de um reforço da imunização.
“A evolução será favorável, mas possivelmente teremos de ter um reforço da vacinação. Até ao momento, as notícias sobre medicamentos que possam erradicar a doença, como acontece com outros vírus, não são animadoras”, disse à Lusa o primeiro presidente do Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed).
Segundo Aranda da Silva, como acontece em todos os medicamentos, a eficácia das vacinas contra a Covid-19 não é de 100%, “pelo que haverá sempre uma parte da população que não fica imunizada”.
“Esta é uma realidade com todas as vacinas e a verdade é que, mesmo assim, com as vacinas conseguimos erradicar do planeta doenças infeciosas que foram devastadoras para a população de diversos continentes durante séculos”, salientou o especialista.
O virologista José Miguel Pereira reitera também que a vacina contra a Covid-19 não confere 100% de imunidade, uma vez que “há sempre um grupo de indivíduos que não adquirem a capacidade de criarem uma resposta imunologicamente competente para este agente viral”.
Segundo o especialista, as vacinas atualmente em uso, sendo eficazes a prevenir a Covid-19, “não permitem aparentemente evitar que o vírus SARS-CoV-2 infete e colonize as células das vias respiratórias dos vacinados”, apesar de se tratar, na maioria dos casos, de infeções assintomáticas ou benignas.
No entanto, diversos estudos revelam que as pessoas vacinadas e que ficam infetadas possuem menores cargas virais e de menor duração nas vias respiratórias, adianta o investigador.
“Ou seja, a probabilidade de haver transmissão a partir de um hospedeiro vacinado que tenha sido infetado é muito menor do que a que se verifica quando essa infeção ocorre num hospedeiro não vacinado”, assegura José Miguel Pereira.
A administração de uma terceira dose de vacina contra a Covid-19 pode vir a ser administrada a dois grupos distintos da população, admitiu quarta-feira a diretora-geral da Saúde (DGS), Graça Freitas.
“A questão da terceira dose tem duas componentes: para os imunosuprimidos é uma outra oportunidade de ficarem imunizados; para as pessoas que tiveram a sua vacinação, mas porque são velhos, doentes ou terem outra condição que não os deixou duradouramente protegidos, está a ser equacionado um reforço. São estes estudos que estão a ser feitos e que têm muito a ver com a duração da imunidade”, afirmou a responsável da DGS.
A Covid-19 provocou pelo menos 4.461.431 mortes em todo o mundo, entre mais de 213,79 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.689 pessoas e foram contabilizados 1.028.421 casos de infeção confirmados, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.
LUSA/HN
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