“Fala-se num aumento da prevalência ou da incidência das perturbações ansiosas e depressivas, mas não há dados empíricos, não há dados objetivos a esse respeito”, sublinhou aquele profissional de saúde, durante uma audição na Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Regional, a propósito de uma proposta do PS que defende a criação de um Plano Regional de apoio à Promoção da Saúde Mental para Crianças e Jovens.
Para Bruno Sanches, que dirige os serviços de psiquiatria do Hospital do Divino Espírito Santo, em São Miguel, um dos problemas com que os profissionais de saúde desta área se confrontam, atualmente, é com a procura de soluções para colmatar a ausência de acompanhamento de crianças e jovens com patologias psicológicas durante a pandemia.
“No fundo, como é que se recuperam aprendizagens que não são adaptadas às características das crianças mais novas, por serem eminentemente à distância, e pela dificuldade de captar a atenção de crianças pequenas sem um envolvimento relacional direto e presencial”, frisou o médico psiquiatra.
A mesma opinião tem a diretora dos serviços de psiquiatria do Hospital da Horta, na ilha do Faial, Edna Leite, para quem o acompanhamento, à distância, de crianças e jovens, com problemas psicológicos ou psiquiátricos, como defende a proposta socialista, não faz sentido.
“Acompanhamento psicológico em regime de consulta à distância telefónico digital não é exequível, muito menos com crianças”, advertiu aquela profissional de saúde, defendendo, em alternativa, a criação de uma linha de apoio em regime de urgência ou emergência.
Edna Leite denunciou também a ausência de recursos humanos especializados neste tipo de patologias, em muitas das unidades de saúde da região, sobretudo, das ilhas mais pequenas.
“Temos poucos psicólogos nos serviços de saúde, tanto nos centros de saúde como no hospital. Não temos psicólogos com formação em psicologia infantil e não temos um apoio da pedopsiquiatria que permita depois dar essa resposta”, lamentou a médica psiquiátrica, defendendo um maior investimento nesta área.
Os dois profissionais de saúde referiram-se também à necessidade de um melhor acompanhamento escolar para as crianças e jovens com problemas psicológicos no arquipélago, como forma de prevenir e controlar eventuais comportamentos de risco.
“Temo que não seja assim, na prática, mas esperava que tivesse havido a possibilidade de, em tempo útil, preparar os apoios necessários, haver a alocação dos profissionais de educação aos locais onde são necessários”, disse Bruno Sanches.
Já Marco Santos, da Secção dos Açores da Ordem dos Psicólogos, discorda da realização de rastreios à saúde mental entre os jovens e crianças em idade escolar, lembrando que, mesmo que fossem realizados, não haveria capacidade de resposta, por parte do Serviço Regional de Saúde, para acompanhar todos esses processos.
“Estudos, acho que é o que estamos habilitados a fazer! Existem nas escolas psicólogos para efetuar esses rastreios, o problema aqui é que os rastreios preveem um reencaminhamento” para os serviços de saúde, disse, alertando que tal poderá não vir a acontecer, por falta de capacidade de resposta.
Rosário Figueiredo, da Federação das Associações de Pais e Encarregados de Educação, também ouvida pelos deputados sobre esta matéria, lembrou que muitas escolas possuem já equipas multidisciplinares, que têm capacidade para aferir parte dessas doenças mentais nas escolas, mas lamentou que os processos não tenham depois consequência.
“Se não estiverem definidas essas estratégias ou essas ações, e não estiverem afetos os recursos humanos a estes planos e a estes projetos, não vão passar de documentos”, alertou a responsável pelas associações de pais e encarregados de educação.
A Comissão de Assuntos Sociais pretende ainda ouvir outros especialistas e membros do Governo sobre a proposta apresentada pela bancada socialista, que defende a criação de um Plano Regional de apoio à Promoção da Saúde Mental para Crianças e Jovens nos Açores.
LUSA/HN
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