Sindicato dos médicos angolanos favorável à vacinação obrigatória

1 de Outubro 2021

O presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola defendeu esta sexta-feira a vacinação obrigatória contra a Covid-19, porque o país não tem capacidade de resposta para um quadro de descontrolo da doença.

Adriano Manuel, que falava hoje à agência Lusa sobre as alterações efetuadas, quinta-feira, pelo Governo de Angola, no que respeita às medidas de prevenção e combate à propagação da Covid-19 no país, disse que vacinar é a melhor opção nesta altura.

“Eu sou de opinião que a vacina seja obrigatória, eu concordo, porque nós não temos recursos humanos suficientes se o sistema de saúde colapsar”, disse Adriano Manuel.

A partir do dia 15 deste mês passa a ser obrigatória a apresentação do certificado de vacinação para aceder a serviços e instituições públicas angolanas, para os cidadãos acima dos 18 anos, essencialmente os que têm contacto direto com o público.

Quem não se encontrar vacinado terá de apresentar o teste negativo da Covid-19, que será válido por uma semana.

Segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, em muitos países onde já se cumpriu entre 70 e 80% de vacinação da população diminuiu substancialmente a mortalidade, independentemente dos efeitos colaterais da vacina.

“Os estudos referem que nos países que vacinaram houve uma elevada diminuição do índice de mortalidade, que é o caso de Espanha, Itália, Portugal, provavelmente daí que o Governo toma a decisão de que todo o mundo tem que apanhar a vacina”, frisou.

Para Adriano Manuel “há vantagens desta vacina”.

“Eu pessoalmente tive covid e tinha as duas doses de vacina e a gravidade não foi grande, não precisei de estar hospitalizado, conheço outras pessoas vacinadas que tiveram covid e a gravidade também não foi grande. São raros os casos que temos pessoas que foram vacinadas – existem também, mas são muito raros – e chegaram a um quadro grave da doença. Então temos que olhar para os prós e contras. Nesta altura é muito mais vantajoso termos a vacina”, considerou.

Contudo, o médico defende a necessidade de se realizar um estudo para analisar o que estará na base desse aumento de casos e de óbitos, a partir do momento em que se começou a vacinar a população.

“Nós precisamos – e isso é o que não fizemos – estudar até que ponto, porque se nota que o covid começou com maior intensidade no nosso país a partir da altura que as pessoas começaram a ser vacinadas, então é uma pergunta que devemos fazer, até que ponto existe essa coincidência: vacina e o aumento de casos, temos que estudar, é um caso para estudar”, disse.

Por outro lado, Adriano Manuel questiona também a ligação entre o aumento de casos e maior testagem.

“Porque anteriormente as pessoas podiam ter uma gripe, inicialmente se não tivessem outros sintomas, não faziam teste de covid, mas hoje as pessoas com uma gripe estão a fazer um teste de covid. Então, estamos a testar mais e estamos a ter mais casos também”, argumentou.

Adriano Manuel reiterou que “entre fazer a vacina, com o objetivo de prevenir ou reduzir substancialmente a gravidade e não fazer, o ideal é fazermos, porque o país não está em condições de atender à demanda se chegarmos ao ponto, por exemplo, do que aconteceu na Itália, Espanha”.

“Angola é dos países africanos com o pior sistema de saúde, acho que essa atitude me parece ser sensata se tivermos que ter em conta tudo isso que referi. Um sistema de saúde débil, défice de recursos humanos, deficiência de material, tanto de diagnóstico como de biossegurança, o país não tem isto, então é melhor optar por vacinar”, sublinhou.

Instado a comentar o recuo das autoridades no acesso às praias e piscinas públicas, o sindicalista considera que não havendo fiscalização, é a medida mais acertada.

“Não digo que são os locais, não é a praia de per si. O que se passa é que as pessoas que lá vão não cumprem com as medidas de biossegurança. Acho que se as pessoas cumprissem com as medidas, o distanciamento, provavelmente isso não iria acontecer, não é o que acontece atualmente, então não temos muita alternativa também”, referiu.

A ministra da Saúde de Angola disse, quinta-feira, que o Governo pretende vacinar 60% da população elegível do país (cidadãos com mais de 18 anos) contra a Covid-19 até dezembro próximo, ou seja, 7,8 milhões de habitantes maiores de 18 anos.

Para o alcance da meta, Sílvia Lutucuta referiu que as autoridades sanitárias precisam de imunizar diariamente 100.000 pessoas, exortando os cidadãos à aderirem aos postos de vacinação em “cumprimento do dever cívico e patriótico”.

Angola registou, nas últimas 24 horas, 644 casos confirmados de Covid-19, o maior número de infeções num dia, desde início da pandemia, com 11 óbitos associados à doença e 386 recuperações.

LUSA/HN

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