“Esta foi uma visita semelhante às que temos feito a outros hospitais da região Sul […]. O que esta tem de diferente é que há seis meses não tínhamos estes relatos vindos de Vila Franca”, disse o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço.
O responsável fez ontem uma visita àquele hospital e esteve reunido com médicos e administração para verificar no local as dificuldades que existem.
“Nos últimos seis meses, começámos a ter pedidos de escusa de responsabilidade, relatos de situações de insuficiência de serviços, de escalas que não eram completadas, algo a que não estávamos habituados neste hospital”, afirmou.
Alexandre Valentim Lourenço disse ter saído da visita “muito preocupado”, porque “muitos dos problemas que existem em todo o Serviço Nacional de Saúde se estão a alastrar aqui”.
Questionado sobre se a gestão do hospital piorou quando deixou de ser uma parceria público-privada e passou para a alçada do Estado, Alexandre Valentim Lourenço considerou que as principais diferenças se prendem com a “autonomia de decisão e de contratação”.
“Porque se se avaria um equipamento o relato que nós tínhamos é que num mês ele era substituído, e agora não há ‘stock’ e pode demorar dois anos. Isso é grave. Também na contratação: quando era preciso um médico, e se houvesse médicos, tinham alguma maleabilidade para oferecer contratos com alguma velocidade. Agora não. Agora estão presos a sistemas centrais que fazem com que estes concursos demorem meses e às vezes anos até estarem resolvidos”, explicou.
O responsável não soube precisar quantos médicos faltam, mas disse que todas as especialidades se queixam do problema e desafiou a direção clínica a “fazer um apanhado real do que é que é preciso para meter este hospital a trabalhar, sem recorrer a 70% de prestadores de serviço e a empresas externas”, que é o que acontece atualmente.
Numa comparação com o que aconteceu no hospital de Setúbal, onde mais de 80 médicos apresentaram a demissão, disse que “a grande diferença são as instalações”, porque as de Vila Franca de Xira são “novas, com espaço”.
“Apesar de tudo, vimos muitos doentes que estão ainda internados na garagem do hospital. As instalações são maiores, são mais amplas, mas foram feitas adaptações que são penosas em termos de trabalho. O número de macas que vimos em Setúbal não existem [em Vila Franca de Xira] porque aqui havia capacidade de abrir salas grandes para receber estes utentes. Agora, o número de médicos para tratar o mesmo número de utentes é o mesmo e isso não pode acontecer”, frisou.
Segundo o representante, o hospital transformou uma garagem em enfermaria Covid-19, mas “acabou a covid” e “ela continua a ser necessária”.
A administração, disse, “tem feito o que consegue fazer com as regras que tem”, lembrando que “tem menos armas e armas menos potentes do que tinha uma administração que era autónoma, com capacidade para tomar decisões”.
Também presente na visita esteve o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, que alertou que há médicos naquele hospital com “550 ou 600 horas de trabalho extraordinário”, o que mostra que “algo está mal”.
Roque da Cunha exemplificou ainda que há serviços, como gastroenterologia, em que as listas de espera para os doentes externos fazerem exames “são de dois anos”: “Há um aumento das listas de espera, diminuição das equipas, diminuição de profissionais”, resumiu.
Contactado pela Lusa, o Conselho de Administração do hospital não quis fazer comentários quanto ao teor das declarações da OM, por desconhecê-las. Contudo, relativamente aos doentes internados na garagem, disse que a “anterior gestão privada” abriu uma ala de internamento, “ocupando uma zona do parque estacionamento subterrâneo”.
Afirmando que iniciou um processo de “requalificação deste espaço”, a administração acrescentou que “estão a ser tomadas medidas por forma a melhorar as condições de segurança clínica, quer para os profissionais de saúde, quer para os doentes” internados naquele espaço.
O hospital de Vila Franca de Xira serve cerca de 250 mil habitantes dos concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira.
LUSA/HN
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