Pessoas vulneráveis têm de estar no centro das políticas alimentares

22 de Outubro 2021

As pessoas vulneráveis têm de estar no centro das políticas alimentares, defende a especialista Miriam Wiemers, exortando os Governos e as Nações Unidas a assumirem “ações ousadas” e a liderarem o caminho da transformação dos sistemas alimentares.

“Os Governos e a Organização das Nações Unidas (ONU) têm de liderar o caminho da mudança, fundamental, dos sistemas alimentares (…), abordando os desafios estruturais – incluindo as desigualdades, as falhas de mercado, os riscos para a saúde e as ameaças ambientais e climáticas – embutidos nos nossos sistemas alimentares”, afirmou, numa entrevista por escrito à Lusa, a representante da organização não-governamental (ONG) alemã Welthungerhilfe (WHH), uma das entidades responsáveis pela elaboração do Índice Global da Fome (IGF).

Segundo a edição deste ano do relatório, divulgada na semana passada, a meta global de erradicar a fome até 2030 está “perigosamente mal encaminhada”.

“Para alcançar a meta de Fome Zero e cumprir o direito à alimentação para todos, precisamos de ações ousadas agora”, prosseguiu a especialista, defendendo que tais ações “devem colocar as pessoas vulneráveis no centro das políticas alimentares” e devem estar alicerçadas em compromissos já assumidos, como é o caso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (a chamada Agenda 2030 traçada pela ONU), o Acordo Climático de Paris e os tratados de direitos humanos.

É neste sentido que Miriam Wiemers insta os Governos a aproveitarem a futura Conferência sobre as Alterações Climáticas – COP26, que arranca já no próximo dia 31 de outubro em Glasgow, Escócia (Reino Unido), para reforçarem os seus compromissos e prioridades no campo da segurança alimentar e nutricional, medidas essas que devem passar, segundo a especialista, por um fortalecimento dos pequenos agricultores ou por melhores cuidados de saúde, educação, água e saneamento, entre outras.

Miriam Wiemers dirige algumas palavras aos países de alto rendimento que, apesar de apresentarem níveis relativamente baixos de fome, não podem ser deixados de parte, uma vez que a insegurança alimentar também é visível junto das respetivas populações.

Por exemplo, a perita lembrou que, durante a atual pandemia provocada pela doença Covid-19, o número de pessoas a dependerem de bancos alimentares nestes países aumentou de forma significativa.

“Mas também, como principais contribuintes para a crise climática, devem estar à altura das suas responsabilidades, ao abrigo do Acordo de Paris, e aplicar medidas de mitigação climática de longo alcance e apoiar os países de baixo e médio rendimento na adaptação ao impacto das mudanças climáticas. A próxima COP26 em Glasgow é uma boa oportunidade para sublinhar esses compromissos”, reforçou.

Ainda nas declarações à Lusa, e perante o atual cenário de contornos desanimadores, Miriam Wiemers quis destacar que existem dados e exemplos que comprovam que “melhorias significativas são possíveis”.

De acordo com a representante da ONG alemã, 14 países conseguiram melhorar o seu desempenho na escala elaborada pelo IGF, ao alcançaram reduções nos níveis de fome na ordem dos 25% entre 2012 e 2021.

O IGF classifica e ordena as situações de fome verificadas nos países a partir de uma escala de 100 pontos: valores inferiores a 10,0 refletem fome “baixa” e valores iguais ou superiores a 50,0 são “extremamente alarmantes”.

“É o exemplo do Bangladesh, onde as melhorias são sustentadas pelo firme compromisso do Governo em combater a subnutrição e onde um conjunto de políticas direcionadas e de investimentos específicos foram aplicados nos cuidados de saúde, educação, agricultura e no desenvolvimento rural, apesar dos tremendos desafios que a crise climática representa para o país”, referiu.

LUSA/HN

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