“Os centros de saúde onde oferecem preservativos deveriam ter esta oportunidade de também oferecer pensos, porque há muitas [crianças] que faltam três ou quatro dias de aulas durante o período menstrual por não terem um penso para usar, porque se forem à escola, sofrem bullying dos colegas”, explicou à Lusa Fátima Balbina, delegada daquela Organização Não-Governamental (ONG) cabo-verdiana na ilha de São Vicente.
“A Organização Mundial da Saúde deveria pensar na oferta de pensos, principalmente para as jovens que não possuem condições económicas”, defendeu, justificando que esta medida faz parte do conceito de “cuidar da saúde”.
Para dar o primeiro passo, aquela ONG lançou uma campanha para arrecadar verbas para iniciar a produção em massa de absorventes reutilizáveis que, além de caráter solidário, agrega a vertente de ser amiga do ambiente.
O projeto já se iniciou com a formação de algumas jovens costureiras e foi ministrada por uma artesã portuguesa que usou as suas férias em Cabo Verde para fazer voluntariado.
“Trabalhamos com a associação Volunturismo São Vicente e normalmente o responsável envia-nos a lista de voluntários e suas valências. E quando vi que tinha a artesã Joana, que inclusive possui uma marca de pensos reutilizáveis, logo de imediato prontifiquei a fazer esta formação”, explicou Fátima Balbina.
Esta iniciativa veio desbloquear um desejo que tinha em avançar com um projeto ainda maior em torno de jovens desfavorecidas e impulsionar as costureiras a abraçarem um projeto que pode ser uma mais-valia para as suas carreiras profissionais.
“Queremos ter um projeto com mais sustentabilidade, em que haja tecido e outros materiais para confecionar estes pensos, que pudéssemos distribuir nas comunidades com mais dificuldades, mas também remunerar as costureiras e dar-lhes oportunidade de quem sabe poderem investir neste ramo”, disse.
Em Cabo Verde já há quem trabalhe com pensos reutilizáveis, mas a responsável assume ser ainda insuficiente para cobrir as necessidades destas comunidades.
Assim, é de São Vicente que pretende lançar este projeto para servir de inspiração para as instituições nas outras ilhas.
“A Organização das Mulheres de Cabo Verde lança um apelo do projeto neste sentido, não só para a ilha de São Vicente, como de igual modo para as outras ilhas e quem sabe se mais tarde não poderemos implementar um programa com todas as delegações nos 16 concelhos aonde temos sede”, conta.
Por ser uma organização sem fins lucrativos, Fátima Balbina explica que dependem de ações de solidariedade para alcançar os objetivos, mas também da disponibilidade do mercado nacional.
“Os materiais são caros e há alguns que nem conseguimos encontrar em Cabo Verde e temos que trazer de fora. Por isso, é preciso também sensibilizar as casas comerciais a importarem tecido e os produtos necessários para que no futuro possamos encontrar materiais locais para darmos continuidade ao projeto”, refere.
Um projeto que a jovem artesã portuguesa Joana Pinto Teixeira acredita agregar outras vertentes, além do solidário, económico e ecológico: “Em Portugal, quem adere mais são as mulheres mais jovens, mais por questões ecológicas e também por questões de empoderamento feminino, uma vez que ao terem contacto com o sangue conectam-se mais com elas próprias”.
Esta artesã, que fez dos pensos reutilizáveis um negócio em Portugal, garante que o fez pelos preços praticados sobre estes produtos no mercado nacional, e para passar novos valores à filha.
“No meu caso comecei a usar pensos reutilizáveis durante a pandemia e depois quando a minha filha menstruou comecei a produzir pensos reutilizáveis e depois a vender para outras pessoas”, conta.
Acredita que esta opção poderá ser uma mais-valia em Cabo Verde, principalmente para as meninas que não têm acesso aos descartáveis e assim decidiu transmitir o seu saber a outras mulheres nesta organização com mais de 40 anos de atividade.
NR/HN/LUSA
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