Marcelo Queiroga, crítico do uso obrigatório das máscaras de proteção individual e um possível indiciado no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da Covid-19, que pede o indiciamento de Bolsonaro por nove crimes, falava durante uma conferência organizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
À sua espera, um grupo de manifestantes brasileiros que criticava a presença do polémico governante no evento, mas que não o conseguiram visualizar, pois a conferência foi apenas transmitida online e sem a presença da comunicação social.
No decorrer da sua intervenção, Marcelo Queiroga, que apenas retirou a máscara para usar da palavra, estabeleceu algumas comparações entre os sistemas de saúde públicos brasileiro e português.
Ambos, refletiu, deparam-se com grandes desafios ao nível das doenças cardiovasculares, do cancro e também enfrentam alterações geracionais, com o aumento da esperança de vida das populações e as consequentes comorbilidades.
Os dois países apresentam igualmente bons indicadores de saúde ao nível, por exemplo, da diminuição da taxa de mortalidade infantil.
Sobre a gestão da Covid-19, Marcelo Queiroga enumerou algumas dificuldades iniciais na gestão da “maior emergência sanitária que a humanidade já viu” num país com 200 milhões de habitantes e que dispunha apenas de 23 mil camas de cuidados intensivos.
“Nunca pensei assistir a uma coisa destas”, assumiu, exemplificando com a situação em Manaus (Amazónia), onde não existia uma única cama de cuidados intensivos e que se tornou conhecida pelas longas filas de populares para a compra de botijas de oxigénio.
“O problema do Brasil não é diferente de países com a nossa dimensão, um país com 200 milhões de habitantes”, frisou.
O governante optou por enaltecer os ganhos conseguidos ao nível da vacinação e que, segundo disse, resultaram na diminuição de 90% dos casos e de 90% dos mortos devido à Covid-19.
A pandemia infetou, até hoje, 21.729.763 pessoas no Brasil, dos quais 20.907.224 recuperaram da doença, e causou 605.644 óbitos.
Os dados mais recentes, recordados por Marcelo Queiroga, indicam que foram distribuídas, no Brasil, 320.004.875 doses da vacina, da quais 269.129.590 foram já aplicadas.
Com mais de 12 anos, 86,8% da população brasileira (153.640.236 pessoas) recebeu a primeira dose e 65,2% dos brasileiros (115.489.354) tem a vacinação completa.
Sobre a vacinação, aquele que é apelidado pelos críticos como o “ministro da morte”, disse que Portugal “vai muito bem”, mas sublinhou que “o esforço não é o mesmo”.
“Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes, vai muito bem na sua campanha de imunização, mas o esforço para vacinar 10 milhões de habitantes não é o mesmo do que para vacinar 180 milhões de habitantes”, referiu.
A presença do ministro da Saúde brasileiro para esta conferência em Lisboa foi hoje criticada por dezenas de brasileiros que protestaram em frente ao hospital de Santa Maria.
“Para nós é estarrecedor o ministro ser condecorado numa faculdade de Medicina importante como esta, dentro do hospital de Santa Maria”, disse à Lusa a dirigente do Coletivo Andorinho Marisie Damin, uma das cerca de 40 pessoas que esta manhã se manifestaram junto à porta de entrada do hospital lisboeta.
“O ministro é um dos responsáveis pelas mais de 600 mil mortes, opôs-se e ainda se opõe hoje ao uso de máscara, que é o princípio básico da proteção [contra a covid-19]”, acrescentou a dirigente brasileira, salientando que “o ‘ministro da morte’ é indiciado por crime de negligência, no mínimo”.
A participação de Marcelo Queiroga numa conferência, a convite do presidente da Faculdade de Medicina de Lisboa, tem sido muito criticada por alguns brasileiros residentes em Portugal, que consideram a presença do governante uma afronta às vítimas mortais da Covid-19.
A faculdade justificou o convite como sendo de âmbito académico a “um médico cardiologista, ministro da Saúde dum país amigo”.
LUSA/HN
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