A criação da consulta de reabilitação cognitiva surge da identificação de uma “lacuna” no programa integral de medicina física e reabilitação do Hospital de São João, revelou esta sexta-feira o diretor daquele serviço à Lusa.
“Faltava uma área também muito importante que é a reabilitação cognitiva em pessoas que sofrem alterações neuropsicológicas no contexto de várias patologias do sistema nervoso central”, afirmou João Barroso, elencando, entre as várias complicações, a Doença Vascular Cerebral (AVC), que hoje se celebra.
Anualmente, no Hospital de São João são internados cerca de 1.200 a 1.400 doentes com AVC, sendo que destes, metade são internados em Unidades de AVC.
À Lusa, João Barroso referiu que do total de doentes com AVC internados no CHUSJ, cerca de 20% apresentam perdas de funcionalidade, ainda que tal, “dependa da localização da lesão cerebral”.
O intuito da consulta, implementada há um mês, é o de estimular e recuperar as funcionalidades cognitivas do doente, seja ao nível da atenção, memória, linguagem, funções executivas ou calculo.
“Os doentes são observados e quando têm um défice de atenção, memória, linguagem, cálculo ou funções executivas são encaminhados e estimulados para integrar este programa”, afirmou o clínico, lembrando que a reabilitação precoce destas mazelas é “crucial”.
“Após um AVC é muito importante fazermos a estimulação o mais precoce possível e era a dificuldade que encontrávamos. Agora, com a reabilitação cognitiva temos esse apoio”, observou João Barroso.
Por sua vez, Cláudia Sousa, coordenadora da unidade de neuropsicologia do CHUSJ, esclareceu que a admissão dos doentes é feita com base numa avaliação dos défices cognitivos.
Depois desse momento, é desenhado um “programa de estimulação” para o doente que, mediante a evolução e circunstâncias, vai sendo adaptado e seguido pelas equipas médicas.
Em cada consulta semanal, que pode durar entre 45 e 60 minutos, o doente defronta-se com uma série de exercícios e jogos que visam, sobretudo, treinar os vários domínios: memoria, orientação, funções executivas e linguagem.
“Usamos estratégias em todas as áreas mesmo naquelas em que o doente não tem défice, para que ele não se sinta frustrado, porque se só trabalharmos as dificuldades, vai achar que está completamente derrotado e também falamos com a família para perceber os gostos dos doentes”, sublinhou.
À Lusa, Cláudia Sousa assegurou que se consultas de reabilitação cognitiva já faziam falta anteriormente, com a pandemia da Covid-19, “ainda fazem mais”, até porque alguns dos doentes internados com o SARS-CoV-2 também apresentam queixas cognitivas.
Até ao momento, já foram avaliados e, consequentemente, estimulados na consulta de reabilitação cognitiva 15 doentes e o Hospital de São João espera iniciar a consulta em regime de ambulatório na próxima semana.
Em Portugal, são internados nos hospitais públicos, por ano, cerca de 23.000 a 25.000 doentes com AVC. Anualmente, morrem perto de 6.000 pessoas vítimas da doença.
LUSA/HN
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