Exemplo modelar é o basquetebolista Kyrie Irving, dos Brooklyn Nets, que está impedido de treinar com a sua equipa e de participar em jogos da Liga norte-americana (NBA) até cumprir as regras de vacinação contra o novo coronavírus do estado de Nova Iorque.
Em recintos fechados, ao contrário do que acontece ao ar livre, as normas diferem em alguns estados norte-americanos, como Nova Iorque ou São Francisco, que proíbem o acesso de pessoas sem qualquer dose inoculada a esse tipo de espaços.
Além de desfalcar por tempo indeterminado a equipa de Steve Nash, uma das principais favoritas à conquista da atual edição da NBA, Kyrie Irving, de 29 anos, campeão em 2015/16 pelos Cleveland Cavaliers e defensor de que “cada um tem o direito de fazer o que lhe parece melhor” quanto às vacinas, arrisca-se a sofrer um rombo na sua carteira.
Se o sindicato dos jogadores rejeitou a ideia de vacinação obrigatória, a NBA definiu que em Nova Iorque e São Francisco, os estados com leis mais restritivas, quem não provar estar inoculado não será recompensado pelas partidas que falhar em 2021/22.
A controvérsia levou o comissário da NBA, Adam Silver, a estimar que cerca de 96% dos jogadores que participam na mais mediática liga de basquetebol do mundo já estavam vacinados, numa fasquia com tendência para aumentar assim que a época arrancasse.
Preocupado com uma ausência forçada das quadras, o ala canadiano Andrew Wiggins, dos Golden State Warriors, reconsiderou a sua visão sobre a vacinação em tempo útil, após ter visto um pedido de isenção por razões religiosas ser negado pela entidade.
Bradley Beal, dos Washington Wizards, esteve infetado e rejeitou ser inoculado, ao ver que pessoas vacinadas “continuam a ser contaminadas”, enquanto LeBron James, dos Los Angeles Lakers, cumpriu o processo, mas não incentiva outros jogadores a fazê-lo.
O próprio protocolo sanitário da NBA traça regras bem mais apertadas para as pessoas não-vacinadas, mas não torna essa inoculação obrigatória, ao contrário do que poderá suceder no Open da Austrália de 2022, primeiro torneio anual do ‘Grand Slam’ de ténis.
O estado de Vitória excluiu a dispensa de vacinação para quem competir em Melbourne, entre 17 e 30 de janeiro, cenário que coloca em dúvida a hipótese de o sérvio Novak Djokovic, de 34 anos, relutante a revelar o seu estado de imunização, defender o título.
O líder mundial tem criticado diversas restrições normalizadas durante a pandemia e já admitiu não jogar na Austrália, onde venceu por nove ocasiões e é o atual tricampeão, caso se mantenha a obrigatoriedade de quarentena à chegada à Oceânia, discordando que um atleta de alta competição esteja duas semanas fechado num quarto de hotel.
Stefanos Tsitsipas, terceiro do ‘ranking’, chegou a dizer que não iria tomar a vacina, a menos que fosse obrigatória para jogar no circuito ATP, gerando desconforto na Grécia, onde foi um dos rostos de uma campanha governamental de sensibilização social em relação aos perigos da pandemia, até revelar a intenção de se inocular ainda este ano.
Essa incerteza está longe de ser invulgar no ténis, como demonstrou a recente edição do Open dos Estados Unidos, que decorreu entre 30 de agosto a 12 de setembro, com quase metade dos atletas não-vacinados, de acordo com dados lançados pelo jornal The New York Times.
Essa franja de atletas, treinadores, árbitros, dirigentes e espetadores vai continuando a precisar de fazer vários testes negativos, PCR ou antigénio, à Covid-19 e quarentenas para poder viajar entre países e continentes, com diferentes contextos pandémicos ou restrições sanitárias, e presenciar eventos desportivos sem bancadas tão restringidas.
A vacinação como conselho em vez de dever no âmbito no desporto foi normalizada a partir dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tóquio2020 e tem acumulado considerável aceitação em diversas modalidades, cujas entidades organizadoras multiplicam apelos para tentar alcançar um nível seguro de imunidade com a maior amplitude possível.
Numa fase em que, do grupo de desportistas resistentes, ainda poucos se expressaram sobre a temática, o futebolista alemão Joshua Kimmich, do Bayern Munique, revelou ter “algumas preocupações” e preferir “esperar por estudos a longo prazo” sobre a vacina.
“Só há vacinados ou não-vacinados, que significam frequentemente um negacionista ou oponente das vacinas. Tenho com frequência a sensação na nossa sociedade de que, se não formos vacinados, de algum modo estamos simplesmente riscados”, explicou o médio, um dos cinco jogadores bávaros que abdicaram da inoculação contra a Covid-19.
Perante receios de um eventual surto no plantel do eneacampeão alemão, depois da infeção do treinador Julian Nagelsmann, já vacinado, a visão de Joshua Kimmich, de 26 anos, recebeu fortes críticas da comunidade médica local e do próprio Governo federal.
“Aceito essa decisão e todos devem decidir o que é melhor para cada um, mas também penso naquilo que é melhor para aqueles que me rodeiam. Está a existir uma discussão ética e moral. Sou amigo das vacinas. Espero que os jogadores não estão vacinados mudem de opinião”, contrapôs no mesmo dia o companheiro de equipa Thomas Müller.
LUSA/HN
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