Paula Martins de Jesus: “O futuro da medicina é indissociável da tecnologia”

11/05/2021
Aos olhos da Diretora Médica da MSD a transformação digital na Saúde potencia a humanização dos cuidados prestados ao doente. Em conversa com o HealthNews, Paula Martins de Jesus admite que a pandemia serviu como alavanca para uma "realidade irreversível”. Apesar de considerar que “não podemos perder a oportunidade de viver esta transformação e extrair o seu melhor”. Para a responsável, existem três “grandes áreas de preocupação”: a segurança dos dados; a correta integração das ferramentas tecnológicas na prática clínica e a comunicação entre os sistemas de informação.

HealthNews (HN)- A tecnologia, associada à humanização constituem por si só um paradoxo. O que as aproxima e como podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos doentes?

Paula Martins de Jesus (PMJ)- Não sei se são paradoxais uma da outra. Quando falamos em humanização pensamos na valorização da relação humana, mas com base no conhecimento científico sólido… E sinceramente acredito que esta “valorização” pode ser potencializada por meio da tecnologia.

Estamos a viver uma mudança do perfil demográfico e epidemiológico da população – temos uma maior longevidade e um aumento de doenças crónicas que necessitam de acompanhamento constante. Por outro lado, os doentes estão cada vez mais informados, participativos e, sobretudo, mais exigentes. Sabemos que o futuro da medicina é indissociável da tecnologia.

Considero que é crítico que o foco seja sempre o doente e não a tecnologia, mas esta deverá ser colocada ao serviço da relação médico-doente, potenciando este conhecimento científico e, assim, a tecnologia colocando-se como elemento facilitador da humanização dos cuidados.

HN- Este será o tema em destaque da Conferência Leading Innovation agendada para este sábado. Em que medida a participação de médicos de diferentes gerações irá contribuir para o debate das questões éticas ligadas ao papel das tecnologias nos cuidados dos doentes?

PMJ- Acreditamos que será uma conversa intemporal onde serão analisados os novos tempos da prática clínica. A integração dos jovens profissionais traz sempre novas abordagens e ferramentas. Sempre assim foi e sempre assim será. Ou seja, a sociedade e a medicina precisam de renovação para evoluir. Os novos médicos cresceram com as transformações tecnológicas e com as novas formas de comunicação… Essa é a principal diferença destes jovens médicos dos restantes. A forma como estes profissionais vivem a carreira é também diferente. 

A medicina sempre existiu com diferentes gerações e com visões distintas do que é ser médico. Portanto, diria que a experiência e a inovação juntas, se forem postas ao serviço de um bem maior como é o doente, são enriquecedoras e construtivas no exercício da medicina.

Não importa a geração, ser médico significa superar-se diariamente em função da saúde do doente. Acredito que nesta conferência os convidados da mesa redonda vão, de diferentes formas, transmitir este sentimento. A troca de experiências vai engrandecer a medicina.

HN- O evento visa proporcionar um momento científico de reflexão, discussão e partilha de experiências. Quais são os principais desafios sentidos na prática clínica no período atual de transição digital na Saúde?

PMJ- A medicina e a prática clínica sempre integraram novas tecnologias. Falamos muito delas hoje em dia, mas não nos podemos esquecer que as tecnologias sempre foram entrando na prática médica; do estetoscópio ao microscópio, entre muitas outras. 

A pandemia veio acelerar a transformação digital. Já era uma realidade, mas tardava em materializar-se em algumas áreas. Penso que no ecossistema da saúde é irreversível. Não podemos perder a oportunidade de viver esta transformação e extrair o seu melhor. Agora, quais são os desafios que me parecem importantes?  A correta integração das ferramentas tecnológicas que se refletem numa melhoria dos cuidados de saúde e na prática clínica e que seja garantida a  comunicação entre os sistemas de informação e a gestão segura dos dados em saúde. Diria que, na transformação digital, estes são as três grandes áreas de preocupação e que merecem uma atenção redobrada.

HN- Ao longo dos últimos anos a MSD tem distinguido projetos de investigação com forte impacto na melhoria da Saúde em Portugal. Quais as expectativas para o prémio vencedor deste ano?

PMJ- A MSD tem feito um esforço enorme para apoiar a investigação e o desenvolvimento de novas moléculas. Cada vez mais temos uma medicina de excelência. 

Este ano, e tal como nos dois anos anteriores, os projetos submetidos foram iniciativas de uma enormíssima qualidade. Houve muito empenho por parte do júri para encontrar o melhor projeto de investigação, mas, de facto, não foi fácil no meio da qualidade daquilo que foi submetido e que representa a qualidade dos nossos profissionais de saúde.

A nossa expectativa e certeza é que o premiado seja, tal como nas edições anteriores, um projeto de investigação de excelência, de imenso empenho e que seja a materialização do que de excecional há em Portugal.

Entrevista de Vaishaly Camões

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

A má comunicação pode ser agressiva ao cidadão?

Cristina Vaz de Almeida: Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde; Doutora em Ciências da Comunicação — Literacia em Saúde. Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde. Diretora da pós-graduação em Literacia em Saúde. Membro do Standard Committee IHLA — International Health Literacy Association.

Crise de natalidade no Japão atinge o seu pico

O Japão registou, em 2024, a taxa de natalidade mais baixa de sempre, segundo estimativas governamentais e, no momento em que a geração “baby boom” faz 75 anos, o país confronta-se com o “Problema 2025”, segundo especialistas.

Cientistas detectam genótipos cancerígenos de HPV em esgotos urbanos

Cientistas uruguaios identificaram genótipos de HPV ligados ao cancro do colo do útero em águas residuais urbanas, sugerindo que a monitorização ambiental pode reforçar a vigilância e prevenção da doença em países com poucos dados epidemiológicos.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights