Cooperativa junta mulheres que fugiram da guerra em Cabo Delgado

7 de Novembro 2021

Mulheres que fugiram da guerra em Cabo Delgado, norte de Moçambique, organizaram-se numa cooperativa e criaram um negócio de venda de comida com apoio de moçambicanos em Itália.

É um recomeço para as respetivas famílias terem receitas com que sobreviver. “O pouco que elas conseguem ganhar serve de ajuda para a alimentação” da família, enquanto reservam “outra parte para que o negócio não pare”, explicou à Lusa Sadia Abdul Latifo, 45 anos, gestora do grupo, em Pemba, capital provincial.

É para lá que têm fugido muitos dos 817.000 deslocados do conflito armado que há quatro anos afeta a região, a maioria dos quais sem saber quando terá a próxima refeição, por falta de rendimentos ou de terra para cultivar.

O grupo de 10 mulheres oriundas da ilha do Ibo decidiu unir-se e criar uma cooperativa baseada na gastronomia local, com o desejo comum de deixarem de depender de ajudas.

“Sinto-me bem por fazer parte desta cooperativa e agradeço às pessoas que nos deram essa ideia. Sinto que é um grande projeto e que nos vai ajudar bastante” refere Sofia Wala, 51 anos, em quimuâni, língua local, uma das mais faladas no Ibo.

Designada Kissiko tcha Waka, que significa Porto de Mulheres, o nome da cooperativa nasce em homenagem àquelas que nos últimos anos desembarcaram em Pemba, fugindo da violência armada, deixando tudo para trás – muitas vezes perdendo inclusivamente a família.

Para já funciona debaixo de um cajueiro no bairro de Maringanha, com uma ementa que inclui pratos tradicionais de lulas, peixe, camarão, tudo entre 100 e 350 meticais (entre um e cinco euros) por prato.

Uma obrigação ficou definida: vender só comida típica de Cabo Delgado.

A iniciativa está a ser suportada por moçambicanos residentes em Itália, que numa primeira fase vão doar 2.100 meticais (28 euros) para cada membro do grupo durante nove meses, descreve Sadia.

O grupo foi criado com o objetivo de criar rendimento por meio de “atividades de ciclo rápido”, acrescenta, decorrendo todo o processo de legalização e inclusão financeira das participantes – muitos deslocados ficaram sem documentos.

Inscrição nos serviços de finanças, abertura de conta bancária e produção de documentos contabilísticos da cooperativa fazem parte das tarefas em curso.

“A grande ação da cooperativa é também a bancarização da mulher”, refere Vasco Achá, 50 anos, outros dos apoiantes da iniciativa.

“Contactámos alguns bancos e estamos na fase da abertura de contas”, a par da “obtenção de toda a documentação necessária” a desenvolver um negócio, referiu.

Além dos papéis, Vasco tem outra tarefa entre mãos: conta o material já recolhido para construção de um espaço onde a cooperativa vai funcionar, deixando de estar só sob o cajueiro.

O conflito armado entre forças militares e insurgentes em Cabo Delgado já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

A luta contra os insurgentes ganhou um novo impulso em agosto, após a reconquista de Mocímboa da Praia, vila onde os rebeldes protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

68% dos doentes não têm a asma controlada

Muito prevalente, subdiagnosticada e mal controlada, a asma ainda pode ser causa de morte no nosso país. Para aumentar a literacia sobre esta doença, o GRESP, a SPAIC e a SPP, embarcam no Autocarro da Asma para esclarecer a comunidade

Ordem firme na necessidade de se resolver pontos em aberto nas carreiras dos enfermeiros

O Presidente da Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros (SRRAAOE), Pedro Soares, foi convidado a reunir esta sexta-feira na Direção Regional da Saúde, no Solar dos Remédios, em Angra do Heroísmo. Esta reunião contou com a presença de representantes dos sindicatos e teve como ponto de partida a necessidade de ultimar os processos de reposicionamento que ainda não se encontram concluídos, firmando-se a expetativa de que tal venha a acontecer até ao final deste ano.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights