Em declarações à Lusa a propósito do Dia Mundial da DPOC, que se assinala na quarta-feira, e do estudo que a Escola Nacional de Saúde Pública vai fazer para conhecer melhor a dimensão da doença em Portugal, o diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Carlos Robalo Cordeiro, considerou que faz sentido que os doentes com DPOC diagnosticada sejam prioritários na vacinação da gripe, da pneumonia e também no reforço da vacina contra o SARS-CoV-2.
“Faz sentido que sejam objeto da vacinação gripal, pneumocócica, que é muito importante (…), e deverão também fazer parte do reforço da vacinação SARS-CoV-2”, afirmou o pneumologista, sublinhando que os doentes com DPOC normalmente “têm uma idade mais avançada e, por isso, muitas vezes apresentam outras doenças associadas, como a diabetes ou a insuficiência cardíaca”.
A DPOC resulta da exposição continuada a substâncias tóxicas, maioritariamente o fumo do tabaco.
Questionado sobre os sinais de alerta, o especialista explicou que, muitas vezes, como estas pessoas são fumadoras e já têm tosse e expetoração por causa do tabaco, acabam por desvalorizar alguns sintomas.
“Os fumadores muitas vezes já têm alguma tosse e expetoração, o chamado catarro respiratório, e desvalorizam o agravamento de queixas”, afirmou o especialista, que insiste na importância de estar atento a qualquer alteração das características da tosse ou expetoração, assim como a sensação de cansaço que se vai instalando de forma progressiva.
“São sinais de alarme para que [as pessoas] percebam que não e só bronquite tabágica, mas que estão a caminhar para este problema [DPOC]”, acrescentou.
O também presidente da Sociedade Respiratória Europeia – a maior sociedade científica global dedicada à investigação e formação em torno das patologias respiratórias – lembrou ainda que a doença é crónica e evolutiva e “precisa de diagnóstico e enquadramento terapêutico”.
“Como as pessoas desvalorizam, a DPOC é muitas vezes diagnosticada tardiamente, muitas vezes já com grande condicionamento na capacidade de esforço e com necessidade de oxigénio”, acrescentou.
Cansaço, falta de ar e dificuldade em fazer esforços, além das alterações das características da tosse e expetoração, que se torna persistente e permanente, devem levar a procurar um especialista para um diagnóstico.
“Isto deve conduzir os doentes para o estudo da função respiratória, porque é aí que se faz o diagnóstico da DPOC”, insistiu Carlos Robalo Cordeiro.
Carlos Robalo Cordeiro lembra que a doença tem tratamento, – “não pode ser curada mas pode ser tratada” -, sobretudo para melhorar a evolução e reduzir complicações.
Para conhecer melhor a realidade da doença no país, a Escola Nacional de Saúde Pública, com o apoio da farmacêutica AstraZeneca, vai realizar um estudo sobre a DPOC, que contará com a participação de vários peritos na área, com o intuito de “aumentar a evidência científica e conhecimento na identificação dos principais constrangimentos no seguimento de doentes e estratégias de atenuação”, explicou Ana Rita Pedro, coordenadora deste trabalho.
“O estudo dos desafios específicos da gestão de DPOC, quer seja a nível da relação doente-médico, institucional e do sistema de saúde são ainda insuficientes”, reconhece a responsável.
Ana Rita Pedro diz que a estimativa indica que em Portugal a doença tenha uma prevalência de 14,2% em pessoas com mais de 40 anos, o que equivale a aproximadamente 800 mil pessoas.
“A progressão da DPOC está relacionada com a gravidade e frequência de exacerbações e pode levar a consequências clínicas a curto e longo prazo, desencadeando padrões clínicos mais graves da doença”, alertou.
Segundo a OMS, a DPOC afeta mais de 200 milhões de pessoas no mundo. A maioria dos estudos mostra que 72% a 93%, do universo dos doentes que apresentam critérios de DPOC são subdiagnosticados.
LUSA/HN
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