A distinção é feita pelos Prémios Pfizer, o mais antigo galardão na área da investigação biomédica em Portugal, que este ano completa 65 anos.
Este ano a multinacional farmacêutica, cujo prémio resulta de uma parceria com a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (SCML), distingue um trabalho de investigação sobre o diagnóstico e prognóstico da doença lúpus, outro sobre a recuperação funcional após uma lesão da medula espinhal e outro sobre o melhor conhecimento da leucemia.
Leonor Saúde, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e premiada pela investigação sobre a forma de recuperação de uma lesão na medula espinhal, disse à Agência Lusa que “a coluna vertebral, além de manter os humanos eretos, também protege a continuação do cérebro, funcionando como uma via de comunicação entre o cérebro e o corpo, controlando assim as ações motoras e sensitivas” e lembrou que a medula espinhal “não se regenera quando é lesionada, levando por exemplo a perda de controlo permanente de pernas ou braços. Mas a medula espinhal de um peixe, o peixe-zebra, regenera-se e o trabalho consistiu em procurar a partir daí possíveis soluções para o problema dos humanos”.
“O que descobrimos foi que após uma lesão na medula espinhal aparecem células que não estavam lá antes, chamadas senescentes. Nos peixe-zebra elas também aparecem e depois desaparecem, mas nos ratos (usados nas experiências porque também a medula espinhal não se regenera) não desaparecem”, explicou a investigadora, admitindo que essas células possam estar a impedir alguma regeneração.
Leonor Saúde salientou que há fármacos para, em experimentação animal, eliminar células senescentes, o que permite uma recuperação motora e sensitiva dos ratos lesionados. As células senescentes, explicou, são uma primeira resposta a um stresse, mas podem ter um efeito negativo ao longo do tempo.
A cientista disse à Lusa que houve da parte dos ratos afetados uma recuperação, mas que não foi total. “Ainda temos muito caminho para andar”, disse, acrescentando que o trabalho é muito promissor, mas que ainda há muita investigação a fazer em animais até que se chegue aos humanos. Para já considera que reduzir essas células pode ser o caminho.
João Barata, igualmente do Instituto de Medicina Molecular e outro dos premiados, também considera que o trabalho de investigação que desenvolve pode melhorar o conhecimento sobre a leucemia e apontar caminhos para o desenvolvimento de novos tratamentos.
A leucemia, ou cancro no sangue, tem origem em células que são essenciais para a resposta imunológica contra uma série de fatores, mas que passam a tumorais, lembrou o cientista, acrescentando que o que foi estudado foi uma molécula que é expressa à superfície dessas células.
“O nosso trabalho mostra que há uma subversão do sistema, uma molécula boa que se converte e causa cancro. O estudo também aponta que podemos arranjar estratégias para atacar as células tumorais”, usando pequenas moléculas que entram para dentro dessas células e impedem os processos bioquímicos que levam à leucemia, disse à Lusa.
Salomé Pinho, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, foi também premiada, com uma investigação na área de outra doença, lúpus, que ataca especialmente mulheres e que é autoimune. Uma das formas mais graves da doença é a insuficiência renal, que pode progredir para doença renal crónica/terminal, levando à necessidade de hemodiálise ou transplante.
O que a cientista fez, explicou também em declarações à Lusa, foi descobrir um biomarcador (como se fosse uma assinatura, uma ferramenta clínica que ajuda ao diagnóstico, prognóstico e decisão) para a doença, que permite prever se o doente vai desenvolver uma doença renal crónica.
“É a primeira descoberta deste biomarcador” e ainda que esteja em fase experimental tem “caráter promissor”, porque “a capacidade de predizer uma doença renal crónica pode chegar aos 93%”, disse Salomé Pinho, acrescentando que é “uma mais-valia” na identificação precoce de doentes de maior risco.
Identificando os doentes que irão progredir para doenças mais complicadas podem usar-se terapias mais dirigidas, disse.
Os três prémios são hoje entregues numa cerimónia com a presença nomeadamente do presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, Luís Graça, e do diretor-geral da Pfizer Portugal, Paulo Teixeira.
Os prémios Pfizer foram instituídos em 1956. Já foram atribuídos a cerca de 700 investigadores, tendo sido premiados 214 trabalhos.
LUSA/HN
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