O que é a dispepsia? Sintomas, causas e possíveis tratamentos

25 de Novembro 2021

Dr. José Mendonça Santos, Gastrenterologista no Hospital Cruz Vermelha,

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

O que é a dispepsia? Sintomas, causas e possíveis tratamentos

25/11/2021 | Hospital cruz vermelha

Dr. José Mendonça Santos, Gastrenterologista no Hospital Cruz Vermelha, explica quais os sintomas recorrentes de uma pessoa que possa ter dispepsia, numa pequena entrevista. 

– O que são as dores de estômago?
José Mendonça Santos – Define-se como dispepsia a dor ou desconforto referidos ao abdómen superior, digamos, a zona central da barriga, entre o umbigo e as costelas. O desconforto pode corresponder a situações tão variadas como enfartamento, plenitude, saciedade precoce, distensão ou náuseas. Estes sintomas podem aparecer de forma continuada ou por surtos intermitentes e podem ser mais marcados após as refeições ou, pelo contrário, com fome, esta última situação mais habitual nos casos de úlcera duodenal.

– Quais as causas?
JMS – As causas são muitas, desde o que se chama vulgarmente uma ‘gastrite nervosa’, situação de difícil caracterização e sem possibilidade de comprovação – digamos que é o que sobra após exclusão de doenças que se possam demonstrar, como a úlcera gástrica ou duodenal, a gastrite erosiva, causada por medicamentos, como os anti-inflamatórios, cada vez mais tomados mesmo em automedicação, ou os medicamentos de ácido acetilsalicílico, usados cada vez mais, para além das situações de dores ou febre, como preventivo de doenças cardiovasculares (enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral isquémico / AVC, etc.), a gastrite a Helicobacter Pylori, uma bactéria que infecta o estômago de mais de 60% dos adultos, com maior prevalência nos mais velhos, infeção que, além da gastrite, á a causa principal das úlceras gástricas e duodenais e de cancro do estômago. A infeção é, geralmente, adquirida na infância mantendo-se em razoável coabitação connosco, até uma altura em que, potenciado por outros fatores – stress, tabagismo, álcool além do recomendado, exageros alimentares, etc, – pode ‘acordar’ da sua latência e começar a causar a gastrite e todas as posteriores evoluções da cascata do cancro gástrico – gastrite crónica – gastrite atrófica – metaplasia intestinal – displasia e cancro.  

– Há várias dores de estômago? Gases e dores de estômago são a mesma coisa?
JMS – Para além destas causas há muitas outras situações sem gravidade, mas não menos incapacitantes, como a acumulação exagerada de ar que, ao distender o estômago, causa dores. Este exagero de ar pode ser devido apenas a ansiedade – uma pessoa ansiosa tende a comer depressa, engolindo muito ar, mas também o tipo de alimentação e as suscetibilidades individuais, levam a produção excessiva de gases, formados pelo processo digestivo.

– Quais os sinais de alerta de que pode ser uma situação mais grave?
JMS – Os sinais de alerta são, em primeiro lugar, a idade (acima dos 45 anos), a gravidade e persistência das queixas – é diferente uma dor que alivia com um antiácido ou uma dor intensa e que não alivia –, a presença de outras queixas, como emagrecimento, a irradiação da dor para as costas, anorexia (perda de apetite) ou intolerância à comida, com náuseas e vómitos, aparecimento de anemia, etc.

Se a dor persiste e não responde às medidas mais simples ou se tem mais de 40 anos deve ser realizada uma endoscopia digestiva alta, que consiste na observação do estômago através de um aparelho fino e flexível, com recolha de imagens através duma câmara de vídeo e transmissão eletrónica para uma televisão. Este exame permite igualmente a recolha de amostras (biópsias) para definir o tipo de gastrite e a presença da já referida bactéria (Helicobacter Pylori), além da exclusão de tumor.

– Como se podem tratar?
JMS – Excluídas situações mais complicadas, como tumores – e Portugal é um País de elevada incidência de cancro do estômago – o tratamento é feito com inibidores da secreção ácida gástrica e substâncias que regularizam a motilidade gástrica.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

MAIS LIDAS

Share This