O trabalho, desenvolvido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, a que a Lusa teve acesso, concluiu que os efeitos negativos são “particularmente pronunciados” no exercício de maior intensidade.
“O uso de máscara cirúrgica é particularmente perturbadora no exercício severo, é menos perturbadora no exercício moderado e não afeta a fisiologia que foi quantificada em termos de repouso. Além de (…) encurtar aquilo que é a tolerância individual para a exaustão, verifica-se uma redução substancial no consumo de oxigénio e que esta redução se associa principalmente a uma redução ventilatória provocada pela máscara”, explicou à Lusa o coordenador do estudo, Gonçalo Vilhena de Mendonça.
Segundo a investigação, nem a frequência cardíaca nem o quociente de trocas respiratórias foram afetados pelo uso de máscaras.
“Esta diminuição da capacidade física – os tais 10% de menor tolerância ao esforço – está mais relacionada com a perturbação da máscara do ponto de vista ventilatório e não tanto do ponto de vista cardíaco ou metabólico”, acrescentou.
O investigador da Faculdade de Motricidade Humana explicou ainda que “o facto de a frequência cardíaca não ter sido alterada com o uso de máscara significa que não será o aparelho circulatório aquele que está mais afetado pela própria máscara”.
“Como o parâmetro que permite saber qual a mistura de nutrientes usados durante o esforço (hidratos de carbono ou lípidos) não se alterou, conclui-se que, nem o aparelho circulatório, nem a componente metabólica parecem ser afetados pelo uso de máscara em exercício. Já a componente ventilatória é muitíssimo afetada”, acrescentou.
Gonçalo Vilhena de Mendonça explicou ainda que, tal como demonstrado no estudo, “o ar que a pessoa inspira de cada vez que inala acaba por ser rarefeito, porque é um ar que fica aprisionado dentro da máscara e que, quando é reinalado, em vez de ter as proporções corretas de oxigénio e de dióxido de carbono, acaba por estar muito enriquecido em dióxido de carbono”.
Além de perturbar a tolerância máxima ao exercício – a capacidade máxima que a pessoa tem de tolerar esforço intenso – o uso da máscara acaba ainda por aumentar a intensidade relativa do esforço moderado, que passa a ser praticado a um maior percentual da capacidade máxima individual.
A investigação, que mediu o impacto do uso de máscaras cirúrgicas no exercício constante de intensidade moderada a intensa, envolveu 32 pessoas (16 homens e 16 mulheres) saudáveis.
Os autores explicam que havia já “evidências parciais” de que o exercício feito com máscara facial reduz o limiar de dispneia (dificuldade respiratória) em pessoas com patologia pulmonar e que isso pode ser causado pela reinalação de dióxido de carbono. Dizem ainda que, noutros estudos, já tinha ficado demonstrado que o uso de máscaras reduzia a ventilação.
Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) “desaconselha a utilização de máscaras faciais durante o exercício intenso pois podem reduzir a capacidade de ventilar confortavelmente”, explicam.
Contudo, eram ainda desconhecidos os efeitos do uso de máscara facial na capacidade de exercício realizado a intensidades constantes ao longo do tempo, bem como a diferença entre o seu uso durante o exercício intenso vs moderado.
“Este é o primeiro estudo a explorar efeito máscara cirúrgica em contexto de exercício moderado e intenso praticado ao longo do tempo e com uma intensidade constante. Os estudos que existiam até agora apenas tinham verificado o impacto da máscara em reposta a uma prova de esforço”, sublinhou o Gonçalo Vilhena de Mendonça, acrescentando outras duas novidades: foram também incluídas mulheres na amostra e foi quantificada a intensidade a que os participantes realizaram o exercício moderado, concluindo que com a máscara o exercício passa a ser intensificado”.
LUSA/HN
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