“Por causa desta pandemia terrível, criou-se uma oportunidade para mudar fundamentalmente o panorama da produção farmacêutica no nosso continente. Agora é a hora de agir decididamente e rapidamente em conjunto”, disse o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, na abertura de uma reunião em Kigali para avaliar o progresso feito desde a criação, em abril, da Parceria para a Produção Africana de Vacinas (PAVM, na sigla em inglês).
“Um dos mais importantes desenvolvimentos” desde então, disse Kagame, foi a criação da AMA, uma agência especializada da União Africana (UA).
O acordo de criação da AMA entrou em vigor em 05 de novembro e já foi ratificado por 17 dos 26 Estados-membros que o assinaram.
“É essencial manter o ímpeto e estabelecer completamente esta agência, sem a qual África não pode autorizar independentemente e regular as vacinas e medicamentos”, disse o chefe de Estado ruandês.
A entrada em vigor da AMA, disse por seu lado o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, abre caminho “ao aumento da qualidade, segurança, eficácia, disponibilidade e acessibilidade de medicamentos e vacinas no continente”.
O responsável destacou outros desenvolvimentos dos últimos meses, como o facto de o Egito, Marrocos, Ruanda e Senegal terem assinado acordos ou memorandos de entendimento para produzir vacinas contra a Covid-19 nos seus países, e de a Argélia ter começado a produzir, ou o estabelecimento, pela OMS e parceiros, de um centro de tecnologia na África do Sul para promover a produção de vacinas no continente.
Segundo Monique Nsanzabaganwa, vice-presidente da Comissão da União Africana, a PAVM foi criada “com objetivos ousados”: aumentar a capacidade de produção e distribuição de vacinas dos atuais 1% para 60% da procura total do continente até 2040.
Em 2025 essa capacidade deverá subir para 10% e em 2030 para 30%.
O enviado especial da UA para a AMA, Michel Sidibé, considerou por isso urgente acelerar o passo e tornar a agência do medicamento uma realidade, lembrando que, ainda hoje, mais de mil milhões de pessoas em África aguardam por uma dose da vacina contra a Covid-19.
Mas o problema não é só a pandemia, apontou: “Este continente representa quase 18% da população mundial, mas acumula quase 25% do peso das doenças no mundo”.
Segundo Sidibé, o continente produz menos de 3% dos medicamentos que consome.
“Precisamos de quebrar esta dependência”, afirmou, sublinhando a necessidade de “africanizar a investigação e o desenvolvimento”.
John Nkengasong, diretor dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), insistiu também na necessidade de reforçar a capacidade de diagnóstico, lembrando que 40 anos após o aparecimento do VIH, o continente, que tem 1,2 mil milhões de habitantes e faz 100 a 150 mil testes de VIH por ano, não tem uma única empresa que produza testes simples para detetar o vírus.
“Servimos de mercado para outros. Penso que isso tem de mudar”, alertou.
O encontro de hoje ocorre numa altura em que a taxa de vacinação contra a Covid-19 em África é de 7%, quando nos países desenvolvidos é de cerca de 60%.
LUSA/HN
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