A empreitada da nova ala pediátrica do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), no Porto, arrancou a 01 de outubro de 2019 e para trás deixou 10 anos de um internamento pediátrico feito em contentores “indignos e desumanos”.
Em novembro de 2018, pais e mães de crianças internadas descreviam à Lusa as condições dos contentores, onde os quartos eram “minúsculos sem janelas”, havia “cartão a tapar buracos na parede”, portas vedadas com “adesivo do hospital” e “uma sanita e duche para os 40 ou 50 pais”.
Nesse mesmo mês, o parlamento viria a aprovar, por unanimidade, a proposta de alteração do PS ao Orçamento do Estado para 2019, para prever o ajuste direto para a construção da ala pediátrica, um projeto vulgarmente conhecido como “Joãozinho”.
O “Joãozinho” nasceu em 2009 e em 03 de março de 2015 foi lançada a primeira pedra da obra pelo então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
A empreitada, então com um prazo de construção de dois anos, estava orçada em cerca de 25 milhões de euros e seria financiada por fundos privados, angariados através da associação humanitária “Um Lugar Pró Joãozinho” que doaria a obra ao centro hospitalar.
Através de um acordo de cooperação, o hospital comprometeu-se a ceder à associação a utilização de uma parcela de um imóvel nas suas instalações.
Em 2016, cerca de um ano depois de ter começado, a obra parou, depois de o centro hospitalar defender que a mesma só seria possível com investimento público devido ao “desfasamento entre as verbas angariadas [pela associação] e o orçamento total da obra”.
Após um impasse de vários anos, em abril de 2019, a Associação Joãozinho abandonou definitivamente a construção do novo espaço.
À Lusa, o presidente da associação, Pedro Arroja, disse então que a ala pediátrica já poderia estar concluída e paga se “não fossem os impedimentos colocados pela administração do hospital e pelo Governo”.
Em julho desse mesmo ano, o internamento das crianças nos 36 contentores do hospital acabou e as estruturas, provisórias há cerca de 10 anos, foram desmontadas.
À época, a deslocação das crianças para as camas pediátricas no edifício principal do hospital foi possível através da utilização de espaços deixados livres com a relocalização de outros serviços.
A nova ala pediátrica, cuja empreitada ficou a cargo da empresa Casais – Engenharia e Construção, está integrada em cinco pisos do edifício principal do hospital e conta com 13 mil metros quadrados.
Com capacidade para 100 camas e 700 colaboradores, a ala tem blocos operatórios, unidades de cuidados intensivos neonatais e a primeira unidade de queimados pediátricos do país.
Somam-se também valências como a cardiologia pediátrica, cirurgia cardíaca e de intervenção, oncologia pediátrica, grande trauma e resposta a doentes neurocríticos.
O espaço conta ainda com uma área lúdica, a Sala de Brincar Ronald McDonald.
Em funcionamento desde o dia 16 de novembro, a nova ala pediátrica do Hospital de São João recebeu já as primeiras 21 crianças e os seus familiares.
A primeira utente a dar entrada naquela estrutura, que de promessa antiga e sonho se tornou realidade, foi uma bebé de um mês.
A inauguração, hoje, da nova Ala Pediátrica do CHUSJ, com a presença prevista do primeiro-ministro, António Costa, e a ministra da Saúde, Marta Temido, está agendada para as 10:15.
LUSA/HN
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