“A Linha SNS24 não tem a capacidade necessária, como se tem constatado nestes últimos dias, e naturalmente que aquilo que são os meios alocados para o rastreio dos contactos também não é suficiente para esta magnitude de casos”, disse à agência Lusa Ricardo Mexia, no dia em que Portugal voltou a registar um novo máximo de novas infeções desde o início da pandemia de Covid-19.
Para o médico de Saúde Pública, “ou há efetivamente uma alteração naquilo que é a abordagem do problema ou então tem que haver uma significativa mobilização de meios para fazer face a estas necessidades”.
“Eu não vejo nenhuma das duas coisas a acontecer e, portanto, é difícil perceber qual é a que é a estratégia”, lamentou.
Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) anunciaram ontem que a linha SNS24, que tem enfrentado dificuldades por causa do aumento da procura com a evolução da pandemia, terá mais cerca de 750 elementos até final da segunda semana de janeiro, o representará uma subida de cerca de 15% nos meios.
Por outro lado, a ministra da Saúde afirmou na terça-feira à Lusa que as administrações regionais de saúde estão no terreno a fazer uma “procura ativa de meios” para reforçar as equipas de saúde pública.
“O que neste momento acontece é que temos vários níveis de procura de prestadores de cuidados de saúde, na vacinação, nos hospitais, nas áreas dedicadas a doentes respiratórios, nos testes, na Linha Saúde 24, nos rastreios e, portanto, os profissionais de saúde não cresceram exponencialmente à medida que está a crescer exponencialmente a necessidade dos serviços que prestam”, lamentou Marta Temido.
Por isso, salientou, “não basta ter disponibilidade para contratar, é preciso também que essa disponibilidade se concretize em respostas efetivas e isso nem sempre é fácil”.
Para Ricardo Mexia, estas medidas deviam ter sido antecipadas porque já se sabia que os números de casos iam aumentar.
“Toda a gente identificou isso como uma necessidade, não percebo porque é que continuamos a correr atrás do prejuízo dois anos volvidos da pandemia”, afirmou, lembrando que a linha 24 já tinha colapsado no passado.
Lamentou ainda que não se tenha acautelado a resposta para responder à testagem em massa da população, que leva agora a que pessoas que testaram positivo não tenham onde ir fazer um teste PCR.
“A montante não têm resposta porque não atendem o telefone da linha SNS 24, não conseguem obter a prescrição para o teste e quando obtêm a prescrição para o teste depois não conseguem um laboratório para o fazer”, descreveu o epidemiologista.
No seu entender, “faz todo o sentido” que as pessoas que vão visitar um familiar ou ter uma reunião familiar com mais pessoas se testem, mas, afirmou, “se estamos a ocupar a nossa capacidade de testagem com essas pessoas, depois para aquelas que tem mesmo que ser testadas porque são sintomáticos a capacidade não chega”.
LUSA/HN
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