MSF deixam fronteira Polónia/Bielorrússia face a bloqueios

6 de Janeiro 2022

Uma equipa dos Médicos sem Fronteiras (MSF) há três meses na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia deixou a região devido ao bloqueio à assistência médica a migrantes e refugiados, indicou esta quinta-feira a organização.

Num comunicado, os MSF responsabilizam as autoridades polacas pelos “repetidos bloqueios” no acesso à região florestal fronteiriça, onde grupos de pessoas estão a “sobreviver com baixas temperaturas” e necessitam “desesperadamente” de assistência médica e humanitária.

“Desde outubro [de 2021] que os MSF têm solicitado repetidamente o acesso à área restrita e aos postos de guarda de fronteira na Polónia, mas sem sucesso”, justificou Frauke Ossig, coordenadora de emergência da organização para a Polónia e Lituânia.

“Sabemos que ainda há pessoas a cruzar a fronteira e que se escondem na floresta e que precisam de apoio. Mas, embora estejamos empenhados em ajudar as pessoas que se deslocam onde quer que estejam, não conseguimos alcançá-las na Polónia”, acrescentou.

Desde junho de 2021, milhares de pessoas tentaram entrar no espaço da União Europeia (UE) através das fronteiras entre a Bielorrússia e Polónia, Lituânia e Letónia.

Em resposta, a Polónia construiu cercas de proteção, enviou militares para a região e declarou o estado de emergência ao longo da zona de fronteira, que se tornou rigidamente controlada e com acesso restrito, inclusive para organizações de ajuda humanitária, grupos de voluntários e imprensa.

Nos últimos seis meses, houve numerosos casos de guarda fronteiriços polacos que obrigaram, à força, migrantes a regressar à Bielorrússia, contrariando as intenções dos refugiados de solicitar proteção internacional e em violação dos seus direitos, lembraram os MSF.

“O medo de tais resistências e da violência por parte dos guardas de fronteira tem levado mulheres, homens e crianças a tentarem abrir caminho pela área sem serem detetados, escondendo-se nas florestas, enfrentando as temperaturas extremas do inverno sem comida, água, abrigo ou agasalhos. Pelo menos 21 pessoas perderam a vida nessas tentativas em 2021”, sublinharam.

Embora o número de pessoas que tentam entrar na UE tenha diminuído nos últimos meses, ainda existem grupos de migrantes e refugiados na região.

“As equipas dos MSF têm trabalhado na Bielorrússia, Lituânia e Polónia em resposta à crise, mas não conseguiram obter autorização para entrar nas áreas de fronteira de nenhum dos três países, apesar dos repetidos pedidos às respetivas autoridades”, denunciou Ossig.

A coordenadora de emergência da organização para a Polónia e Lituânia lembrou que “grande parte” dos migrantes e refugiados que conseguiram sair das áreas restritas receberam ajuda humanitária de organizações não-governamentais locais, apoiadas pelos MSF.

“Os MSF estão preocupados com o facto de a política atual de restringir o acesso a organizações humanitárias e grupos de voluntários poder resultar na morte de mais migrantes e refugiados. Estas políticas são, uma vez mais, um exemplo da criação deliberada da UE de condições inseguras para as pessoas procurarem asilo nas suas fronteiras”, acrescentou Ossig, para quem a atual situação é “inaceitável e desumana”.

“As pessoas têm o direito de procurar segurança e asilo e não devem ser ilegitimamente empurradas de volta para a Bielorrússia. Isso está a pôr vidas em risco”, sublinhou a responsável dos MSF.

Ossig adiantou que, apesar de deixar a zona de fronteira, os MSF vão manter-se a trabalhar na Polónia e estão a tentar abrir um escritório em Varsóvia, continuando a organização empenhada em apoiar as operações de assistência na Lituânia e na Bielorrússia.

LUSA/HN

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