Politólogos consideram que cirurgia de Jerónimo não afeta campanha comunista nem ‘fecha’ sucessão

11 de Janeiro 2022

Politólogos recusaram esta terça-feira que a cirurgia de Jerónimo de Sousa afete a campanha comunista, e frisaram que, apesar de o PCP ter escolhido João Oliveira e João Ferreira como substitutos na campanha, a sucessão não está ‘fechada’.

Em declarações à agência Lusa, o politólogo António Costa Pinto realçou que a cirurgia do secretário-geral comunista nunca beneficiaria o PCP porque, apesar de “ser um partido altamente estruturado” e de ter “um núcleo dirigente coletivo”, “tem sido marcado pela presença individual e destacada de Jerónimo de Sousa nas campanhas eleitorais”.

No entanto, o professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) considerou que a sua cirurgia não irá ter “um papel muito importante na campanha eleitoral do PCP”, nem irá criar um “fator de empatia” ou “de fragilidade”, porque o eleitorado comunista “não é sensível a esse tipo de temas”.

“As ligeiras subidas ou descidas do PCP não estarão com certeza ligadas imediatamente a esta intervenção cirúrgica a Jerónimo de Sousa”, perspetivou.

No mesmo sentido, o professor do ISCTE André Freire salientou que a cirurgia de Jerónimo de Sousa “pode criar uma certa compaixão” no eleitorado, mas frisou que, “apesar de tudo, as escolhas políticas não se regem por esse tipo de coisas”.

À semelhança de António Costa Pinto, André Freire realçou que, apesar de o PCP ficar temporariamente arredado do seu “rosto”, trata-se de um “partido que tem um funcionamento coletivista” e “mais colegial”.

“As pessoas sabem que, se há partido que não é tão personalista como os outros – não quer dizer que não esteja também hoje em dia personalizado, porque estão os partidos todos, e o PCP não é exceção – é o Partido Comunista. Apesar de tudo, tem um modo de funcionamento mais colegial, mais coletivista e as pessoas sabem que a pilotagem do partido ficará bem assegurada”, frisou.

António Costa Pinto também abordou o funcionamento interno do partido para realçar que, apesar de o PCP ter escolhido João Oliveira e João Ferreira como substitutos de Jerónimo de Sousa na campanha durante a sua ausência temporária, não significa que a sucessão do atual secretário-geral esteja fechada, alertando que convém não esquecer o lugar de destaque de outros dirigentes comunistas, como o ex-presidente da Câmara Municipal de Loures Bernardino Soares.

“A estrutura organizativa do PCP não aponta para esse modelo de delegação e, portanto, o secretariado do Comité Central tem obviamente aqui uma palavra a dizer e, sob esse ponto de vista, é um órgão coletivo”, indicou.

Costa Pinto destacou assim que, apesar de o PCP ser “sensível aos militantes que têm maior destaque externo ao partido”, por terem participado noutras campanhas eleitorais ou terem exercido cargos de eleição, “o fundamental na seleção dos líderes” comunista continuam a ser “fatores internos e não externos”.

Também considerando que a sucessão ainda não está fechada, André Freire sublinhou que os dois substitutos são “dois quadros muito bem preparados”, destacando que João Ferreira, quando foi candidato às eleições presidenciais, “saiu fora do espaço do PCP em questões como a eutanásia”, enquanto João Oliveira, como líder da bancada parlamentar comunista e licenciado em Direito, “tem uma atividade mais diretamente ligada à matéria política”.

No entanto, o professor do ISCTE defendeu que Jerónimo de Sousa “era um cimento das várias tendências” ou “dissensões” dentro do PCP, designadamente no que se refere à política de alianças, alertando que esse cimento poderá “ficar em causa” caso o secretário-geral saia da liderança.

“O João Oliveira eu acho que é um homem mais próximo do Jerónimo, tem estado na linha da frente das negociações que houve no âmbito da geringonça e, depois desta última legislatura, nas negociações com o PS. Portanto, talvez seja para essa questão do cimento, mais propenso a uma política de alianças mais aberta”, indicou, considerando que João Ferreira é “mais ortodoxo”.

O PCP anunciou hoje que o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, 74 anos, vai ser submetido a uma operação urgente “da estenose carotídea (à carótida interna esquerda)” na quarta-feira e vai falhar a primeira parte da campanha das legislativas enquanto estiver a recuperar.

Até lá, será substituído por João Ferreira, ex-candidato presidencial e vereador da CDU na câmara de Lisboa, e pelo líder parlamentar do PCP, João Oliveira, ambos com menos de 45 anos.

LUSA/HN

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