Problemas do foro mental totalizam 40% dos pedidos de ajuda na Linha SOS Voz Amiga

22 de Janeiro 2022

Os pedidos de ajuda à linha SOS Voz Amiga de pessoas com depressão e outras doenças do foro mental aumentaram desde o início da pandemia, em 2020, totalizando 40% do total das chamadas, segundo o presidente da associação.

“Em 2021, pelo menos até finais de junho, foi mais do mesmo do que aconteceu em 2020. Tivemos a mesma quantidade de chamadas, uma média mensal de 1.000, muita ansiedade ainda e notamos que em termos de problemas de saúde mental houve um aumento razoável nessas chamadas”, adiantou Francisco Paulino.

Um aumento já verificado em 2020, mas que se acentuou no ano seguinte: “Se antes da pandemia, as chamadas que tinham a ver com problemas de saúde mental eram sensivelmente um quarto do total, neste momento já totalizam 40% do total das chamadas”, salientou.

Apesar de ser “uma situação transversal”, tanto de género como de idade, as pessoas com idades entre os 36 e os 55 anos são as que mais ligam com este tipo de problemas.

Destas chamadas, um quarto são de pessoas com depressão, seguindo-se depois todos os outros problemas do foro mental, como esquizofrenia, sendo que “a ansiedade está presente em todas as chamadas, independentemente de qual seja a situação colocada”, disse Francisco Paulino.

“À medida que o sistema de vacinação foi sendo implementado as pessoas foram ficando mais tranquilas, mas agora verificamos que afinal as nossas certezas não eram nenhumas e continuamos nesta batalha contra a covid-19 e a ansiedade está a regressar novamente”, salientou.

Entre as chamadas que chegam ao serviço, há também situações de pessoas que “dão a indicação que estão à beira de se suicidar”, mas menos do que em 2020, ano do início da pandemia em Portugal.

“Estranhamente a percentagem de situações com ideação [pensamento] suicida não aumentou muito em 2021”, tendo acontecido mais em 2020 quando “a incerteza era maior”, comentou.

Para Francisco Paulino, o que “é preocupante” é este tipo de apelos acontecer mais nos jovens, com idades entre os 16 e os 25 anos.

“Antes recebíamos poucas chamadas de jovens, agora recebemos bastantes. Talvez se deva a alguma divulgação do nosso projeto que está a cargo das estudantes da Escola Superior de Comunicação Social que têm feito o possível e o impossível por fazerem chegar o serviço junto dos nossos jovens, tanto do secundário como universitário”, estimou.

Mas, advertiu, “se o nosso serviço servir de barómetro o problema está a ficar mais preocupante no meio dos jovens mesmo a nível nacional”.

“Inclusive era raro recebermos chamadas de jovens com menos de 16 anos e estão a acontecer principalmente do sexo feminino [quase 70%]”, sustentou.

Relativamente aos motivos que levam as pessoas a ligarem para a SOS Voz Amiga, apontou a ansiedade, tristeza, depressão, problemas relacionais, primeiro namoro e ideias suicidas.

Sobre o que acontece depois das chamadas, Francisco Paulino afirmou que essa é a “angústia” e a “frustração” dos voluntários da Linha. “Nós podemos achar que aquela chamada correu bem, que conseguimos implantar alguma semente de esperança naquela pessoa e ficamos satisfeitas no momento, mas a partir dali terminou a chamada e também o nosso envolvimento”, lamentou.

De vez em quando, contou, “recebemos no nosso ‘site’, na nossa na nossa caixa de correio, agradecimentos de pessoas a quem ajudamos a ganhar esperança e a ficarem por cá, mas a maior parte não sabemos. Temos de aprender a lidar com isso”.

A SOS Voz Amiga é uma linha de apoio emocional que se disponibiliza a ajudar todos aqueles que se encontram em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou risco de suicídio.

A Associação conta atualmente com 45 voluntários, que depois de uma formação com profissionais de saúde mental, se disponibilizam a atender esta linha telefónica diariamente, entre as 16:00 e as 00:00, (213 544 545/ 912 802 669/ 963 524 660).

LUSA/HN

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