Biden estabeleceu um prazo de 25 anos para atingir esse objetivo, no âmbito de um esforço maior para acabar com o cancro tal é hoje conhecido, de acordo com responsáveis da administração norte-americana, que deram ontem conta do anúncio, na condição de não serem identificados.
A questão é profundamente pessoal para Biden, pois perdeu o seu filho mais velho, Beau, para o cancro do cérebro, em 2015.
A dor vivida pelo presidente é partilhada por muitos americanos. A Sociedade Americana do Cancro estima que todos os anos se registem 1.918.030 novos casos de cancro e 609.360 mortes atribuídas a esta doença.
O que Biden pretende fazer é essencialmente salvar anualmente mais de 300.000 vidas, algo que a administração acredita ser possível porque a taxa de mortalidade ajustada à idade já diminuiu em cerca de 25% nas últimas duas décadas.
A taxa de mortalidade por cancro é atualmente de 146 por 100.000 pessoas, contra quase 200 em 2000.
A Sociedade Americana do Cancro aplaudiu Biden por “colocar a atenção nacional nesta questão crítica” e comprometeu-se a estar “lado a lado” com a administração.
Barron Lerner, professor de medicina e saúde populacional na Universidade de Nova Iorque Langone Health, disse que “objetivos hiperbólicos” podem ser necessários para atrair a atenção pública, mas reconheceu que uma redução de 50% é “extremamente improvável”.
“Esforços passados semelhantes, como a ‘Guerra contra o Cancro’, têm tido ganhos, mas de uma forma modesta”, disse Lerner, autor de “The Breast Cancer Wars” (A Guerra contra o cancro da mama”).
“O cancro é muitas doenças e requer uma investigação muito complicada”. Traduzir estes avanços para o cenário clínico também nunca é fácil”.
Como parte do esforço, Biden irá reunir um “Gabinete do cancro”, o qual incluirá 18 departamentos, agências e gabinetes federais, incluindo líderes dos Departamentos de Saúde e Serviços Humanos, Assuntos dos Veteranos, Defesa, Energia e Agricultura.
A pandemia de Covid-19 consumiu recursos de cuidados de saúde e fez com que as pessoas perdessem mais de 9,5 milhões de rastreios do cancro.
A Casa Branca acolherá também uma cimeira sobre a iniciativa do cancro e continuará uma série de mesas redondas sobre o assunto.
O objetivo é melhorar a qualidade do tratamento e da vida das pessoas, o que também tem um forte impacto económico.
O Instituto Nacional do Cancro informou, em outubro, que o peso económico do tratamento foi superior a 21 mil milhões de dólares em 2019, incluindo 16,22 mil milhões de dólares em custos de doentes que não tinham meios financeiros.
O Presidente Barack Obama anunciou o programa contra o cancro durante o seu último ano completo de mandato e garantiu 1,8 mil milhões ao longo de sete anos para financiar a investigação.
Obama designou Biden, então seu vice-presidente, como “líder da missão”, um reconhecimento do luto de Biden como pai e pelo seu desejo de fazer algo a esse respeito. Biden escreveu nas suas memórias “Promete-me, pai” que escolheu não se candidatar à presidência em 2016, principalmente devido à morte de Beau.
Quando Biden anunciou que não procurava a nomeação democrata em 2016, disse que lamentava não ter sido presidente e justificou: “Eu teria querido ser o presidente que pôs fim ao cancro, porque é possível”.
O esforço caiu um pouco fora do foco do público quando Donald Trump se tornou presidente, embora Trump, um republicano, tenha proposto, no seu discurso sobre o Estado da União em 2019, 500 milhões de dólares, em 10 anos, para a investigação pediátrica do cancro.
Biden continuou o trabalho como cidadão privado, estabelecendo a Iniciativa Biden contra o Cancro para ajudar a organizar recursos para melhorar os cuidados oncológicos.
Quando Biden procurou a presidência em 2020, tinha lágrimas nos olhos quando disse, numa entrevista ao “Morning Joe”, da MSNBC: “Beau é que deveria concorrer à presidência, não eu”.
LUSA/HN
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