Novas posições políticas na Europa sobre migração permitem algum optimismo, diz analista

5 de Fevereiro 2022

Novas posições, defendidas nomeadamente pela França e pela Alemanha, justificam “um otimismo moderado” em relação a políticas europeias diferentes sobre migração, disse o especialista Martin Hofmann em entrevista à agência Lusa.

Hofmann é consultor do diretor geral do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas de Migração (ICMPD) e autor de uma análise desta organização sobre os principais desafios para a Europa em relação à questão em 2022.

Depois de várias crises, de muitas notícias de mortes e maus-tratos, surgiram novas posições que “demonstram que há mais dinâmica, mais abertura e mais oportunidades de reconsiderar, redescobrir, renegociar certas posições, ou seja, mais espaço para diferentes soluções europeias”, indicou o especialista à Lusa.

“Estou cuidadosamente otimista de que veremos avanços” em relação às políticas migratórias face ao que a Europa mostra estar a considerar, declarou Martin Hofmann.

Por um lado, refere, o novo Governo alemão parece querer “impulsionar a agenda europeia e formar uma coligação de países que sejam mais eficazes” para receber migrantes, o que indica que ao invés de se ficar por esquemas de realocação obrigatória de migrantes em todos os Estados, há disponibilidade para criar um grupo “de países mais dispostos” a receber os migrantes e refugiados.

Por outro lado, o facto de a França ter feito da reforma do espaço Schengen uma prioridade da sua presidência do Conselho da União Europeia também pode ter consequências positivas, considerou.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, indicou que a prioridade da sua presidência da UE passa também por reuniões regulares dos Estados-membros sobre política migratória e pela cooperação com países de origem e países de trânsito.

Em contrapartida, reconheceu Martin Hofmann, surgem soluções do espetro oposto, como a construção de muros e barreiras para proteger as fronteiras externas da União Europeia.

O especialista referiu “mais barreiras exclusivas, (…) mais muros – sobretudo com o caso recente da Bielorrússia” e “a aplicação de regras mais rigorosas no que diz respeito à admissão de procedimentos de asilo”.

Assinalou, no entanto, “o maior número de entradas dos últimos quatro anos”, o que considerou significar que “as pessoas entram na União Europeia”, haja muros ou não.

O ano ainda agora começou e Martin Hoffman reconhece que a análise do ICMPD não contempla a possível crise migratória que uma eventual invasão da Ucrânia pela Rússia poderá causar, mas ainda assim considera que a Europa parece estar a criar melhores condições para enfrentar o problema.

Para o analista, as principais causas dos fluxos de migração para a Europa este ano serão as situações no Afeganistão e na Síria.

“O Afeganistão vai ser fonte das maiores preocupações da Europa em relação a migrantes, em conjunto com a situação política e económica de vários (outros) países de origem e também dos países de trânsito””, avançou Martin Hofmann.

A análise que realizou sobre o panorama de 2022 lista 12 grandes problemas que a Europa vai enfrentar no que concerne a migrações e garante que o ano será novamente desafiador, devido sobretudo às consequências da pandemia ou às tensões crescentes em vários países.

“A pressão económica aumentou na maioria das regiões e isso aumenta a pressão para migrar”, explicou.

As razões para os fluxos migratórios deste ano não são novas, lembra o analista, referindo que, “pelo menos desde 2015, que as pessoas que entram na Europa são refugiados e migrantes económicos (…) e não há razão para isso mudar este ano”.

Mas uma outra questão está a surgir cada vez com mais importância na Europa: “a necessidade de reagir ao envelhecimento demográfico no mercado de trabalho”, sublinhou Martin Hofmann.

Para o especialista, esta é a questão que necessitará de mais reflexão dos políticos e decisores e é destacada na análise do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas de Migração.

“Em 2050, teremos menos 37 milhões de pessoas em idade ativa na União Europeia, mas já hoje em dia nos confrontamos com o facto de muitas vagas não conseguirem ser preenchidas por nacionais”, alerta o documento, acrescentando que a pandemia de Covid-19 tornou ainda mais claro o quanto as economias europeias dependem de trabalhadores essenciais.

LUSA/HN

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