Vírus está “objetivamente” endémico mas não deixa de ser grave

16 de Fevereiro 2022

O investigador Henrique Barros afirmou esta quarta-feira que o coronavírus SARS-CoV-2 está “objetivamente” endémico, mas alertou que isso não significa descurar a gravidade da doença Covid-19, como a malária ou a tuberculose que também são patologias endémicas.

“O vírus está endémico, porque objetivamente está, e isto não quer dizer que não haja gravidade, porque a malária é uma doença endémica, a tuberculose é uma doença endémica e são doenças muito graves”, disse o presidente do Instituto De Saúde Pública Da Universidade do Porto na reunião de peritos e políticos para avaliação da situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal.

O epidemiologista explicou que endemia “tem a ver com a forma de circulação do agente e não com a gravidade da doença ou os riscos”.

Numa apresentação com o tema “Covid-19: Da emergência à endemia”, Henrique Barros disse que “há muito que se esboçava uma aproximação de sazonalidade e que há muito que o vírus estava para ficar, estava a endemizar”.

“O problema é a forma como nós lidamos com isto e em que medida é que estamos seguros”, salientou, lembrando as medidas e políticas gerais adotadas e a importância da vacinação.

Henrique Barros adiantou que “há muitos meses que mudou a relação entre o número de casos e o impacto da infeção”, o que se refletiu na intensidade das medidas tomadas.

“Há muito que se mudou e que se pensa a resposta em função da gravidade da doença e não tanto em função dos casos e isso é verdade também não só para as políticas, mas para cada um de nós se olharmos para a mobilidade da população em Portugal, por exemplo”, salientou.

Segundo o investigador, não só as medidas governamentais como as medidas pessoais fizeram essa mudança, de uma fase inicial de desconhecimento do início da epidemia, para uma fase de compreensão de que o vírus circula na comunidade e que é preciso viver com ele.

Henrique Barros apresentou os primeiros resultados de um estudo com uma amostra representativa da população do Porto que revela que, numa amostra de 230 pessoas com mais de 10 anos, 98% tem anticorpos e destes 18% tem uma história de diagnóstico de infeção.

“Sabemos que ter anticorpos não é necessariamente igual a estar protegido, mas é o melhor indicador que temos, mas se a imunidade resultante da infeção natural pode desaparecer, e a informação que recolhemos corrobora, 96,5% desta população, que é representativa do Porto e está vacinada, praticamente toda (99%) tem a presença de anticorpos”, disse, salientando que “é com esta armadura que se pode enfrentar endemia e a sazonalidade”.

O investigador reforçou ainda a “importância excecional” de continuar a fazer a “vigilância, cuidadosa e continuada das águas residuais”, lembrando que “ainda não havia praticamente casos, eram pouquíssimos e a infeção já crescia nas águas residuais e, portanto, este olhar pode chamar a atenção para a forma de encontrar um caminho de saída muito controlado”.

LUSA/HN

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