Prevenir pandemias pode salvar 1,6 milhões de vidas por ano

19 de Fevereiro 2022

Investigadoras brasileiras disseram à Lusa que investir na prevenção de pandemias menos de 10% das perdas económicas causadas por doenças como a covid-19 podia salvar 1,6 milhões de vidas por ano.

De acordo com um estudo, publicado no jornal científico Science Advances, investir cerca de 20 mil milhões de dólares (17,6 mil milhões de euros) na prevenção de pandemia podia poupar ao mundo cerca de 10 biliões de dólares (8,8 biliões de euros) em custos ligados à mortalidade.

O investimento podia permitir também reduzir para metade o risco de futuras pandemias causadas por vírus que possam passar de animais para seres humanos.

Foi isso que esteve na origem da atual pandemia e “a comunidade científica já vem alertando há muito tempo que uma situação como a covid-19 estava para acontecer”, disse a brasileira Mariana Vale, que participou no estudo.

Com a covid-19, “havia uma oportunidade de chamar a atenção para o problema da prevenção, porque a tendência é para aumentar a frequência dessas pandemias”, sublinhou a professora de ecologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Epidemiologistas, economistas, ecologistas e biólogos ligados à conservação da natureza, em 21 instituições nos Estados Unidos, na China, no Brasil, na África do Sul e no Quénia, trabalharam durante quase um ano neste estudo.

“Era preciso colocar um valor monetário na prevenção, para que na verdade os tomadores de decisão começassem a ter elementos para decidir o que é melhor: prevenir ou lidar com as pandemias”, explicou Mariana Vale.

O estudo defende o investimento em programas para pôr um fim ao tráfico de internacional comércio de animais selvagens e ao consumo de carne desses animais, algo ainda comum na China, disse a académica brasileira Márcia Castro, que também participou no estudo.

A especialista em demografia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, disse que a prevenção passa também pela vigilância de doenças em animais domésticos e selvagens e pela redução, pelo menos para metade, da desflorestação de florestas tropicais, incluindo a Amazónia.

Márcia Castro admitiu que é um enorme desafio convencer as autoridades e sociedades a investir milhares de milhões de euros na prevenção de pandemias, devido ao “paradoxo do sucesso”.

“Se fizermos a coisa certa no campo da saúde pública, o sucesso da prevenção é invisível, não tem dramas, não tem vidas perdidas, nada acontece”, sublinhou a investigadora.

Mariana Vale disse que “existe um foco excessivo na preparação” para a próxima pandemia, seja através do reforço dos serviços de saúde e da capacidade de produção de materiais como máscaras, seja através do desenvolvimento de vacinas.

“Essa tem sido a resposta à covid-19, ignorando completamente a possibilidade de as pandemias poderem ser prevenidas”, acrescentou a especialista em ecologia.

A covid-19 provocou quase seis milhões de mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.

NR/HN/LUSA

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