O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou também no Parlamento o fim dos auto testes antigénio gratuitos a 01 de abril, cujo custo ascendeu a 2.000 milhões de libras (2.400 milhões de euros) em janeiro.
As medidas deveriam caducar dentro de um mês, a 24 de março, mas o Executivo britânico decidiu antecipar a data e avançar com o que apelidou de estratégia “aprender a viver com a covid”, substituindo a intervenção do Governo pela responsabilidade pessoal individual.
“Não precisamos de leis para obrigar as pessoas a serem atenciosas com os outros. Podemos confiar nesse senso de responsabilidade de uns para com os outros, fornecendo recomendações práticas sabendo que as pessoas as seguirão para evitar infetar entes queridos e outros”, argumentou.
Assim, as pessoas vão continuar a ser aconselhadas a testarem e a cumprirem auto-isolamento, bem como a usar máscaras em espaços fechados ou com muitas pessoas, de forma opcional.
Porém, o líder do Partido Trabalhista, a principal força da oposição, Keir Starmer, criticou Johnson por acabar com os testes gratuitos e outras medidas, pedindo mais dados que fundamentaram esta estratégia.
“Quando se está a ganhar 2-1 a 10 minutos do final [do jogo], não se deve substituir um de seus melhores defesas”, afirmou, usando uma metáfora futebolística.
O Executivo britânico reconhece que a pandemia não terminou, e que continua a existir incerteza sobre o que vai acontecer, pelo que mantém uma “abordagem cautelosa” à medida que o Reino Unido aprende a viver com a covid.
Alguns sistemas de vigilância e planos de contingência continuarão, para responder ao aparecimento de novas variantes do vírus, mas o pilar principal do combate à cCvid-19 vai ser o programa de vacinação, medicamentos antivirais e a imunidade da população.
Para o chefe do Governo, este é um “momento de orgulho”, pois o Reino Unido é um dos primeiros países a remover as medidas de contenção introduzidas há dois anos, colocando-o “um passo mais perto do regresso à normalidade”.
Porém, o tom triunfante do anúncio está a ser ensombrado pela notícia de que a Rainha Isabel II, de 95 aos, testou positivo, evidenciando a vulnerabilidade que muitas pessoas continuam a ter perante a doença.
Ainda assim, o Palácio de Buckingham reiterou que a monarca tem apenas “sintomas ligeiros tipo gripe” e que pretende desempenhar algumas das suas “tarefas ligeiras” esta semana.
Tendo em atenção o risco agravado dos mais idosos, o Governo também anunciou ontem que, a partir da primavera, pessoas com mais de 75 anos, residentes em lares e imunocomprometidas com mais de 12 anos poderão receber uma quarta dose.
O plano aplica-se apenas a Inglaterra, pois Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte decidem as próprias regras em matéria de saúde.
Atualmente, pessoas positivas ou assintomáticas têm de se isolar até 10 dias, mas se estiverem vacinadas podem sair ao fim de cinco dias se testarem duas vezes negativo.
Um estudo do Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências (SAGE) estimou que o contágio pode aumentar entre 25% e 80% se as pessoas se comportarem como faziam antes da pandemia e sem outras medidas.
Perante o risco de aumento rápido dos casos que podem afetar serviços públicos, incluindo os hospitais, cientistas e profissionais de saúde defenderam manter algumas medidas, como os testes gratuitos.
Lembrando que o número de mortes continua alto, acima de uma centena diariamente, o presidente da Associação Médica Britânica, Chaand Nagpaul, disse à BBC que a decisão do Governo é “estranha” e que não há motivos para aliviar as restrições, preferindo esperar por uma redução do número de casos.
O Governo do País de Gales também considerou “prematura e imprudente” a redução do programa de testes, que um porta-voz disse desempenhar “um papel fundamental na quebra das cadeias de transmissão do Covid” e ser “uma poderosa ferramenta de vigilância”.
Mas o professor de medicina da Universidade de Oxford, John Bell, que esteve envolvido no desenvolvimento da vacina da AstraZeneca, é mais otimista e argumentou que o risco da doença diminuiu substancialmente nos últimos meses.
“Podíamos fazê-lo [levantar as restrições] daqui a um mês ou dois, mas a pergunta é: quando é que se deve fazê-lo? Penso que não é uma má altura para começar”, afirmou à BBC.
Os partidos da oposição alegam que este anúncio pretende desviar as atenções do “Partygate”, o escândalo das “festas” realizadas na residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street, em 2020 e 2021, desrespeitando as restrições para controlar a pandemia.
Um relatório da Polícia Metropolitana sobre o escândalo é esperado nas próximas semanas.
Uma análise de várias sondagens realizada pelo site Britain Elects indica que 54% dos eleitores estão descontentes com Boris Johnson e só 27,3% estão satisfeitos, enquanto os restantes estão indecisos.
Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte adotaram estratégias diferentes de Inglaterra ao longo da pandemia.
Na Irlanda do Norte, as restrições legais foram substituídas na semana passada por recomendações, como o uso de máscaras em alguns espaços públicos.
Na Escócia e no País de Gales, a obrigatoriedade de isolamento continua em vigor, bem como o uso de máscaras nos transportes públicos, lojas, cafés e restaurantes, escolas secundárias e hospitais, e os alunos do ensino secundário têm de fazer testes várias vezes por semana.
No domingo foram registados 25.696 casos de infeção, menos 38% do há uma semana e o valor mais baixo desde novembro de 2021.
O número de mortes e hospitalizações também está em queda após a vaga causada pela variante Ómicron em dezembro e janeiro.
De acordo com dados oficiais, e 66% da população britânica acima dos 12 anos já foi inoculada com uma terceira dose da vacina contra a Covid-19, o que sobe para mais 81% se forem apenas considerados os maiores de 18 anos.
LUSA/HN
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