Portugal lidera no empreendedorismo feminino, mas desigualdade salarial aumentou na pandemia

8 de Março 2022

O empreendedorismo na região euro-mediterrânica tem “rosto masculino”, mas Portugal lidera nas mulheres empreendedoras, apesar da desigualdade salarial ter aumentado durante a pandemia ou as mulheres precisarem trabalhar mais 51 dias para igualar o salário do homem.

De acordo com um relatório da União para o Mediterrâneo (UpM), divulgado esta semana, “apesar das fortes variações entre os [42] países, o empreendedorismo na região euro-mediterrânica continua a manter a face masculina”.

Ainda assim, Portugal lidera o ‘ranking’ dos países com mais mulheres empreendedoras com 37,2%, seguido da Croácia com 31,5%, enquanto, por exemplo, em Marrocos “as mulheres representam apenas 12,8% dos empresários e o seu número baixou no último ano”, lê-se no relatório.

Por outro lado, dados compilados pela base de dados Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, mostram que a desigualdade salarial entre homens e mulheres aumentou durante a pandemia de Covid-19, de tal maneira que Portugal, Letónia e Finlândia são os únicos três países europeus em que isso aconteceu entre 2019 e 2020.

Para Portugal, o valor relativo à disparidade salarial de homens face mulheres situou-se nos 11,4% em 2020 depois de ter estado nos 10,9% em 2019.

Por outro lado, a disparidade salarial de mulheres face a homens chegou aos 14,1% em 2019, o que corresponde “a uma perda de 51 dias de trabalho remunerado para as mulheres”, refere a Pordata.

No entanto, a presença de mulheres no mercado de trabalho cresceu, passando de 59% em 1993 para 72% em 2020.

“Quando comparadas as taxas de emprego com a média da União Europeia a 27 verifica-se que há mais mulheres em Portugal a trabalhar do que a média europeia”, que está nos 66,8%.

Refere também que “embora o trabalho a tempo parcial abranja, em média, 30% das trabalhadoras europeias, esta não é uma realidade em Portugal”, onde a percentagem não ultrapassa os 12%.

Apesar de a taxa de emprego em 2020 ser mais elevada entre os homens (77,8%) do que nas mulheres (71,9%), foi entre elas que a evolução foi mais expressiva, tendo em conta que em 1993 só 59,2% das mulheres estavam empregadas enquanto entre os homens a percentagem era de 81,2%.

Os dados compilados pela Pordata permitem também verificar que “as mulheres já superam os homens em algumas profissões que, no passado, eram tipicamente masculinas”, como seja o caso de médicas (56,3%), advogadas (55%) e magistradas (61,9%).

“Também na investigação elas vão conquistando terreno: representam 42% do total de investigadores. Continuam a predominar na docência até ao ensino secundário e estão sub-representadas na polícia (8,4%)”, refere a Pordata.

Apesar de nascerem mais homens, as mulheres portuguesas vivem mais e por isso “representam a maioria da população”, havendo cem mulheres por cada 91 homens.

Vivem, em média, mais seis anos do que os homens, apesar de terem à nascença uma esperança média de vida saudável de 58 anos contra 61 dos homens.

Já a esperança média de vida aos 65 anos era em 2020 de mais 21,5 anos para as mulheres e 17,8 anos para os homens.

“Em 2021, apenas cerca de uma em cada 20 mulheres, dos 18 aos 24 anos, abandonou os estudos sem concluir o ensino secundário, enquanto entre eles foram dois em cada 20 que deixaram de estudar sem completar o secundário”, lê-se nos dados da Pordata.

As mulheres portuguesas casam-se, em média, aos 33 anos, enquanto nos homens é aos 35 anos, e têm o primeiro filho cada vez mais tarde, aos 31 desde 2019, uma realidade que tem vindo a agravar-se desde o início do século e que fez a idade média das mães aumentar em cerca de quatro anos.

O relatório da UpM destaca algumas medidas de incentivo à igualdade de género implementadas nos 42 países que fazem parte da organização, destacando que Portugal foi um dos 11 países – juntamente com a Algéria, Bósnia Herzegovina, Egito, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Montenegro e Tunísia – que aprovou legislação para equilibrar a representação de género no Parlamento ou nas estruturas regionais.

Portugal está entre os países da zona euro-mediterrânica com pelo menos 30% de mulheres no Parlamento (39,5%) e no Governo (40%).

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

IGAS processa Eurico Castro Alves

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) anunciou hoje ter instaurado em novembro de 2024 um processo ao diretor do departamento de cirurgia do Hospital Santo António, no Porto.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights