Pandemia é ‘motor’ para novo livro da escritora madeirense Luz Marina Kratt

17 de Março 2022

"Já para casa" é novo romance da escritora madeirense Luz Marina Kratt, que se tornou emigrante “por acidente de percurso”, no qual destaca o voltar “a descobrir a importância das raízes, valores e tradições”, na sequência da pandemia da Covid-19.

O livro, com 357 páginas, numa edição da Oxalá, é a segunda obra da autora e vai ser apresentado na próxima segunda-feira, na Assembleia Legislativa da Madeira.

Falando sobre o romance, a escritora disse à agência Lusa que o palco é a aldeia de Água Formosa, uma das Aldeias de Xisto da serra da Lousã, no Geodésico de Portugal, considerada “a mais envelhecida de toda a Europa”, onde residem cerca de 10 pessoas, mas uma aldeia que se “recusa a desaparecer” como outras povoações vizinhas.

Esta localidade “decide lutar contra o esquecimento, a solidão e a morte social, um dos piores flagelos do século XXI”, apontou.

“A pandemia foi o motor que pôs em andamento um plano traçado pelos últimos habitantes daquele povoado”, os quais decidem ir “às cidades procurar os filhos que há muito haviam partido”, acrescentou.

Luz Marina Kratt destacou que o “Já para casa” é assim “uma história escrita por este punhado de gente, que fez do isolamento uma mais-valia, da originalidade e genuinidade um nicho no mercado turístico, cravando no xisto o seu selo de garantia”, realçou.

Numa aposta na valorização do “seu património cultural e na riqueza da sua história, do seu artesanato e gastronomia e na simpatia e autenticidade das suas gentes”, e numa atitude de abertura ao mundo exterior, “Agua Formosa se revitaliza e planta orgulhosa uma bandeira na rota das aldeias do Xisto”, destacou.

“E os filhos da terra ouvem o apelo dos mais velhos. Vão regressando aos poucos, primeiro para ficar uns dias, percebendo depois que já não querem a vida que deixaram para trás”, mencionou.

Depois, acrescentou, “com uma alegria quase infantil, descobrem que afinal é possível construir um futuro mesmo à porta de casa” e “nesta aldeia de contos de fadas, eles criam uma aldeia de verdade, com gente feliz a viver lá dentro”.

“O romance tem também um lado muito humano, com amores desencontrados, tabus, que foi preciso quebrar, famílias que se reencontram, mulheres que têm a coragem de deixar tudo para trás para seguir os seus sonhos”, mencionou, enunciando que aborda igualmente “a importância de se criarem centros para a terceira idade, em contacto com a terra”.

Luz Marina Kratt argumentou que o romance “é uma obra que faz repensar o futuro que queremos construir a partir daqui”, após uma pandemia que “chegou sem aviso, roubando a paz e o sossego, fechando as pessoas em casa, impotentes perante a brutalidade da nova realidade que chocou o mundo”.

“Como nunca, sentimos necessidade de repensar os nossos objetivos e valores”, opinou, considerando que “fez muita gente descobrir, que afinal há coisas muito mais importantes do que o lucro, o sucesso e a acumulação de bens a qualquer custo”.

No seu entender, muitos andaram a “correr atrás de fantasias” e acabaram por concluir que “a família e os amigos passaram a ser mais importantes do que nunca, um abraço apertado passou a valer tanto” e “estar mais em contacto com a natureza foi outra das descobertas mais preciosas que fizemos em conjunto”.

Nascida na Madeira, filha de pai emigrante, Marina declara que tornar-se também uma emigrante “foi quase um acidente de percurso”.

Está a residir na Alemanha depois de se ter casado com um alemão, interrompendo a carreira de jornalista, com passagem pela RTP-Madeira.

“Eu tenho como herança de família a emigração. Foi uma realidade que me marcou desde sempre”, declarou, considerando que ter vivido em vários países, como o Reino Unido e Austrália, a ajudou a ter “um conceito alargado do que é ser cidadão da Europa e do mundo”.

Mas, realça que, nestes últimos anos, foi “saindo e voltando, com a família e a ilha a chamarem sempre de regresso a casa”.

“Não tenho a menor dúvida de que este é o meu porto de abrigo. É aqui que quero morrer”, concluiu.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Informação HealthNews: Ana Paula Martins será reconduzida no cargo

De acordo com diferentes fontes contactada pelo Healthnews, Ana Paula Martinis será reconduzida no cargo de Ministra da Saúde do XXV Governo constitucional, numa decisão que terá sido acolhida após discussão sobre se era comportável a manutenção da atual ministra no cargo, nos órgão internos da AD. Na corrida ao cargo, para além de Ana Paula Martins estava Ana Povo, atual Secretária de Estado da Saúde, que muitos consideravam ser a melhor opção de continuidade e Eurico Castro Alves, secretário de estado da Saúde do XX Governo Constitucional.

Auditorias da IGAS apontam fragilidades no combate à corrupção no SNS

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde realizou 14 auditorias a entidades do SNS desde 2023, que identificaram áreas críticas que exigem reforço nos mecanismos de controlo interno e prevenção da corrupção nas entidades auditadas, revela um relatório hoje divulgado

Programa Proinfância apoia mais de 1.200 crianças vulneráveis em Portugal

Desde o seu lançamento em Portugal, em 2021, o Programa Proinfância da Fundação ”la Caixa” tem acompanhado mais de 1.200 crianças e adolescentes, assim como mais de 800 famílias em situação de vulnerabilidade económica e risco de exclusão social em todo o território nacional. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights