A chegada àquele município do distrito do Porto ficou marcada pelo discurso emocionado do homem mais velho dos refugiados, apenas três homens integravam o grupo, que agradeceu a “generosidade e a coragem” da comitiva que partiu dia 11 em direção à Polónia com um camião tire cheio de donativos e um autocarro vazio para transportar os trazer para Portugal.
As 23 crianças, 27 mulheres e os três homens estavam na capital da Polónia, num dos centros de acolhimento de Varsóvia, vindos de vários pontos da Ucrânia e vieram para Portugal porque tinham familiares ou amigos a residir na Maia.
A primeira noite em Portugal vai ser passada num hotel, sendo hoje de manhã o grupo vai ser testado à Covid-19 e só depois se vai juntar à família.
“Nós vamos cuidar de vocês”, garantiu o presidente da Câmara Municipal da Maia, António Silva Tiago ao grupo, depois de uma das crianças resgatadas ter cantado, em português, uma música sobre a cidade que a acolheu.
Antes, em jeito de apresentação, o avó da jovem artista, que se manteve praticamente calado durante toda a viagem, pediu a palavra, à saída do autocarro, e agradeceu a ajuda dos portugueses aos ucranianos naquele que é “um dos momentos mais tristes da História” da Ucrânia.
“Só posso agradecer a todos que estiveram envolvidos nisto, desde o mais pequeno ao mais importante, nunca vamos esquecer o que fizeram por nós”, disse, visivelmente cansado e emocionado.
Para trás, ficou um país em guerra, filhos, amigos, maridos , pais e muita incerteza sobre o futuro: “Estou aqui e não sei se a minha casa ainda existe. Não sei se o meu marido ainda está vivo, se se já juntou ao exército. Não sei como vou viver, mas aqui eu e o meu filho temos uma hipótese” disse à Lusa, ainda durante a viagem Natacha, mulher e mãe de um menino de 5 anos.
Pelo caminho, o grupo mostrou-se desconfiado, com as mulheres a confessarem estarem com “algum medo e angustiadas” por “não saberem bem” para onde vão.
“Pouco ou nada sabemos de Portugal. Eu só sei o que a minha cunhada que está lá conta. Nunca pensei que viria viver para Portugal. Não sei o que vou fazer”, disse.
Com o avançar dos quilómetros os rostos daquelas mulheres foram-se suavizando, apareceram os primeiros sorrisos, as primeiras conversas com os elementos da comitiva, voluntários que prestaram auxílio médico, logístico e, principalmente, abriram os braços para dar conforto aquelas mulheres e crianças.
A viagem ficou marcada por três “grandes paragens”, uma em Nuremberga (Alemanha), onde o dono da multinacional alemã fabricante de elevadores Scmitt-sohn aufzuge recebeu o grupo proporcionando-lhes uma refeição quente e brinquedos para as crianças, a segunda em Lyon (França), para mais uma refeição e a terceira no País Basco (Espanha).
“As pessoas recebem-nos bem. Têm coisas para os nossos filhos, até chupetas”, comentou, entre o espanto e a alegria, ViktprYa, mãe de duas das crianças do grupo.
No momento da chegada, o alivio pelo fim da viagem era notório, mas também o receio do futuro.
“Temos esperança. Aqui não temos guerra. Mas temos receio pelo nosso futuro e pelo da Ucrânia, que será sempre o nosso país”, disse à Lusa a jovem.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 780 mortos e 1.252 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 5,2 milhões de pessoas, entre as quais mais de 3,1 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
LUSA/HN
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