Mais de 4.700 crianças vítimas de abuso sexual em Angola em um ano

29 de Março 2022

Pelo menos 4.706 casos de abuso sexual contra crianças foram registados em Angola entre março de 2021 e março de 2022, com Luanda a registar o maior número, foi hoje anunciado.

A informação foi avançada hoje pelo diretor geral do Instituto Nacional da Criança (INAC) de Angola, Paulo Kalesi, durante a apresentação do balanço da Campanha Nacional de Prevenção e Combate à Violência Sexual contra a Criança em Angola.

Luanda, capital angolana, registou o maior número de casos de violência contra menores, nesse período, totalizando 2.520 casos. Lunda Sul, com nove, foi a província com menor número de casos.

A província do Bengo registou 57 casos, Benguela (392), Bié (52), Cabinda (11), Cuando-Cubango (54), Cuanza Norte (42), Cuanza Sul (32), Cunene (35), Huambo (242), Huíla (383 casos), Lunda Norte (17,) Malanje (160 casos), Moxico (62), Namibe (11), Uíje (202) e Zaire com 421 casos.

A campanha, que decorreu entre 16 de março de 2021 e 16 de março de 2022, envolveu mais de 2,7 milhões de pessoas, entre as quais mais de um milhão de crianças e nesse período foram realizadas 1.922 atividades nas 18 províncias angolanas lideradas pelo INAC.

Do número global de crianças vítimas de abuso sexual em Angola, 75 crianças foram do sexo masculino e o 4.631 foram do sexo feminino.

Paulo Kalesi referiu que foram encaminhados para acompanhamento, nesse período, 3.121 casos, 1.31 para a ação social municipal e 264 para os serviços provinciais do INAC.

Maior cobertura dos casos por parte da imprensa, maior veiculação de notícias, aumento da cultura de denúncia de casos de violência sexual contra a criança, maior conhecimento das crianças, “sobretudo as que frequentam a igreja e a escola”, sobre mecanismos de prevenção de violência sexual foram apontados como avanços registados nesse período.

Outras melhorias foram também melhor capacitação dos profissionais de instituições de resposta, saúde, polícia e outros, sobre procedimentos de atendimento de casos de abuso sexual contra menores e o surgimento de atos de repúdio de casos de violência sexual contra a criança.

Kalesi apresentou também os constrangimentos registados em um ano de implementação da campanha, referindo que a Covid-19 contribuiu para o aumento de casos de violência sexual contra a criança.

O “slogan fica em casa, ficaram em casa, mas a violência aumentou e mais crianças foram abusadas”, realçou.

Insuficiência de recursos humanos, materiais e financeiros nas instituições de resposta, sobretudo a nível dos municípios, fraco conhecimento das autoridades tradicionais sobre a problemática da violência sexual contra a criança são igualmente alguns dos constrangimentos.

O responsável alertou igualmente que as festas infantis, onde adultos dançam com crianças a “tarraxinha” (conhecida dança angolana sensual), constituem “ambientes propícios” para a prática da violência sexual.

Por seu lado, o representante adjunto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Angola, Andrew Trevett, considerou, na sua intervenção, que a violência contra as raparigas e rapazes está entre as questões mais urgentes para a proteção criança no país africano.

“A violência sexual e doméstica contra mulheres e meninas é preocupante, mas ainda são poucos os casos denunciados às autoridades”, disse.

O Unicef “apoia os esforços do Governo de Angola na consolidação de um sistema de garantias de direitos para crianças vítimas de violência, pretendendo ajudar a mitigar efetivamente as ameaças de violência, abuso, exploração, negligência, discriminação e exclusão contra as crianças em Angola”.

A cerimónia de balanço da campanha decorreu hoje, em Luanda, e foi presidida pela ministra da Ação Social, Família e Promoção da Mulher angolana, Faustina Alves.

LUSA/HN

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