“A MSF anunciou hoje oficialmente a suspensão das suas atividades humanitárias na região do sudoeste dos Camarões”, que enfrenta um sangrento conflito separatista, “três meses após a captura e detenção de quatro membros do seu pessoal, ligados à ação médica da organização”, escreve a organização não-governamental em comunicado.
As atividades foram suspensas “a partir de 29 de março, para a organização se dedicar a obter a libertação segura dos seus colaboradores”.
Esta é a primeira vez que a MSF se refere publicamente às detenções, disse à agência France-Presse (AFP) o responsável da comunicação para a África Central e Ocidental da MSF, Scheherazade Bouabid.
No final de 2020, o Governo camaronês já tinha suspendido as operações da MSF no noroeste, a segunda região anglófona do país, acusando as suas equipas médicas de “conluio” e de “cumplicidade” com os grupos armados separatistas.
Nestas duas regiões, onde vive essencialmente a minoria anglófona de um país maioritariamente francófono, dirigido com mão de ferro há quase 40 anos por Paul Biya, 89 anos, o exército e os grupos separatistas enfrentam-se quase diariamente há cinco anos.
Segundo as Nações Unidas e organizações não-governamentais, os civis são vítimas de abusos cometidos pelos dois lados de um conflito que já fez mais de 6.000 mortos e mais de um milhão de deslocados.
“Encontramo-nos numa situação insustentável: por um lado, fornecemos a assistência médica necessária; por outro, as pessoas que prestam essa assistência correm o risco de serem processadas pelas suas atividades médicas”, explicou Sylvain Groulx, que lidera os programas da MSF na África Central, citado no comunicado.
O responsável disse que a organização precisa que existam “condições prévias” para realizar as suas atividades num ambiente seguro e, assim, “cumprir as suas obrigações com os pacientes”, e acrescentou que a MSF permanece aberta ao diálogo com as autoridades camaronesas para retomar as suas atividades.
As autoridades camaronesas não responderam aos pedidos de comentário da AFP.
Os quatro funcionários da MSF são camaroneses e entre eles há uma enfermeira de 33 anos e um motorista de 44.
Dois deles foram detidos em 27 de dezembro de 2021 “após assistirem um paciente ferido por uma bala que precisava de cuidados urgentes”, enquanto os outros dois foram detidos nas semanas seguintes.
Desde então estão detidos em Buea, capital da região do Sudoeste, no âmbito de uma “investigação por cumplicidade no secessionismo”.
LUSA/HN
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