De acordo com a imprensa senegalesa, Astou Sokhna, uma mulher de 30 anos, casada e grávida de nove meses, morreu na quinta-feira passada num hospital público na cidade de Louga, após ter pedido uma cesariana, sem ter sido atendida.
O pessoal do estabelecimento terá recusado o seu pedido, argumentando que a operação não estava planeada, e ameaçou expulsá-la, caso insistisse.
De acordo com os media, a jovem esperou cerca de 20 horas por uma operação que nunca chegou, e disse, segundo as suas palavras amplamente reproduzidas nas redes sociais: “Operem-me, porque não sei se ainda estarei aqui amanhã”. O bebé não foi salvo.
“Inaceitável”, foi o título do jornal Libération na edição de segunda-feira.
O diretor do hospital, Amadou Guèye Diouf, disse na segunda-feira à noite que tinha “iniciado um procedimento administrativo para clarificar os contornos deste caso […] e dar o seguimento adequado”.
Hoje, o caso ainda ocupava as primeiras páginas de vários meios de comunicação impressos e online.
O Presidente senegalês, Macky Sal, disse ter tomado conhecimento, “com grande tristeza, da morte da senhora Astou Sokhna no hospital” e publicou uma mensagem de “condolências à sua família” na rede social Snapchat, que é muito popular entre as mulheres senegalesas.
“Dei instruções às autoridades competentes para esclarecerem as causas da morte, a fim de estabelecerem todas as responsabilidades. Nenhuma falha será tolerada”, acrescentou o chefe de Estado, assegurando que tem o setor da saúde “no coração” e insiste “todos os dias em melhorar os cuidados da população”.
O Senegal, um país de maioria muçulmana e que faz fronteira com a Guiné-Bissau, fez progressos significativos nos últimos anos na área dos direitos da mulher, tal como evidenciado pela adoção, no início de abril, de uma “lei sobre a proteção das mulheres grávidas”, que supostamente porá fim à prática generalizada de despedir uma funcionária quando está grávida.
Mas a ONU e os ativistas de direitos apelam regularmente às autoridades para que façam mais para acabar com a discriminação legal e outras formas de discriminação contra as mulheres, bem como com a violência a que estão rotineiramente sujeitas.
A tragédia em Louga é a última de uma série de tragédias no setor da saúde do Senegal, onde os sindicatos lamentam regularmente a falta de recursos humanos, técnicos e financeiros.
Alguns já fizeram as manchetes, como a morte de quatro recém-nascidos, em abril de 2021, na sequência de um incêndio no hospital da cidade de Linguère, perto de Louga.
Nas redes sociais, muitas mensagens denunciam o tratamento de pacientes em instalações públicas e, em particular, os atrasos que levam muitos pacientes a recorrer aos serviços do setor privado, apesar do custo mais elevado.
Uma petição exigindo “justiça para Astou” conta com dezenas de milhares de assinaturas e está prevista uma marcha para sexta-feira em Louga sobre o mesmo tema.
A imprensa revela que o marido da vítima apresentou, na segunda-feira, uma queixa no tribunal local.
LUSA/HN
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