Afonso Vieira, um dos sócios-gerentes da Padaria Ribeiro, recorre a uma profecia para, à Lusa, descrever como tem andado o negócio por estes dias: “Há uma espécie de tempestade perfeita que é peste, fome e guerra. Começamos pela peste, já estamos a viver a guerra, esperemos que a seguir não venha a fome para se cumprir”.
Nas cinco lojas da Padaria Ribeiro, o movimento regressou, entretanto, à “normalidade”, mas os custos de produção alteraram-se “drasticamente”.
À subida dos preços da eletricidade e dos combustíveis, Afonso Vieira soma agora o aumento das matérias-primas, um dos “efeitos colaterais” da guerra na Ucrânia.
“Nunca vi, nem nunca vivi nada assim”, admite.
Se em abril de 2020 era “impossível fazer previsões” para a Páscoa, por causa da pandemia da Covid-19, este ano, a situação é igualmente “preocupante”, especialmente quando esta perde, de ano para ano, o “significado de festa religiosa”.
“A Páscoa obviamente que é uma época para aproveitar, mas não faz esquecer ou esconder o grande problema que vivemos neste momento que é o aumento brutal dos custos. Não é a Páscoa que os vai esbater ou fazer desaparecer, de modo nenhum”, garante Afonso Vieira.
Com a pandemia a, aparentemente, dar “tréguas”, é com “medo”, mas também alguma “expectativa” que Rui Paiva, sócio-gerente da Confeitaria Tavi, na Foz, aguarda por esta Páscoa.
“Estamos a fabricar pão-de-ló e outras doçarias, mas vejo o negócio tão parado. Será que está tudo para fora?”, questiona, dizendo que o nível de encomendas está ligeiramente abaixo do habitual, mas que isso “nem sempre é mau sinal”.
“Às vezes não é sinónimo de que vamos trabalhar mal porque depois nos próprios dias a afluência é muita. Estou com muita expectativa”, disse, relutante, pois também ali, os “efeitos colaterais” da guerra da Ucrânia já bateram à porta.
“Parece que trocamos só serviços por comida. Os ganhos são absolutamente diminutos. Na padaria [Tavi – Padaria da Foz] não consigo fazer refletir mais os aumentos, se não perco os clientes”, confessa à Lusa.
Ainda que acredite que os efeitos da crise “não se estão a fazer sentir”, Rui Paiva já sentiu a falta de compreensão de alguns clientes.
“Não há compreensão. As pessoas vão aos supermercados e não têm com quem reclamar, aceitam estes aumentos. Nos nossos negócios não, vão ao balcão e reclamam diretamente. Sofremos muito na pele”, admite.
Já Sérgio Rodrigues, sócio-gerente há mais de 15 anos da Doce Alto, sentiu “uma quebra significativa” e o “medo de consumir” dos clientes, logo após a invasão da Ucrânia, no final de fevereiro.
“Ao contrário das grandes superfícies, que todas as semanas alteram preços, nós que somos mais pequenos, o cliente que nos visita diariamente não está preparado para o impacto que temos que repercutir nos produtos”, salienta.
Dizendo que o aumento dos preços de produtos como ovos, leite, cereais e derivados são sentidos diariamente, Sérgio Rodrigues descreve a situação como “quase desesperante”, ainda que guarde uma esperança: “que passe rápido”.
Apesar das encomendas para o almoço estarem já no “limite” e o sortido de amêndoas, assim como outras doçarias regressarem às montras, Sérgio Rodrigues perspetiva que o consumo não seja “tão bom como o desejado”. Nem o que existiria se na Europa não tivesse despoletado uma guerra.
Até que os efeitos colaterais e a própria guerra passem “rápido”, as seis lojas da Doce Alto vão continuar numa “ginástica financeira constante”.
LUSA/HN
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