Webinar “À conversa com anestesiologistas – hot topics sobre os canabinóides na gestão da dor”

21 de Abril 2022

Organizado pela Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA), realizou-se na noite de ontem o webinar “À conversa com anestesiologistas - hot topics sobre os canabinóides na gestão da dor”

O evento contou com mais de uma centena de participantes e foi moderado por Pedro Trincão, Assistente Hospitalar de Anestesiologia no Centro Hospitalar do Médio Tejo e Vogal da Secção de Medicina da Dor da SPA. Contou, ainda, com os palestrantes, Artur Aguiar (Assistente Hospitalar de Radioncologia e Medicina da Dor) e Rita Moutinho (Assistente Hospitalar Graduada de Anestesiologia e pós-graduada em Medicina da Dor e Acupunctura Médica).

Na sua intervenção, Artur Aguiar fez uma breve contextualização do tema “Sistema Endocanabinóide” descrevendo, também, as principais indicações terapêuticas dos canabinóides. Apresentou uma resenha histórica da utilização milenar destes compostos na medicina, descritos originalmente na Farmacopeia de Shen-Nung, 2700 a.C. (com aplicação na dor reumática e menstrual), passando por referências históricas do antigo Egito, Império Romano, etc. A polémica proibição, que teve lugar a partir de 1937, com a aplicação do “Marijuana Tax Act” nos EUA foi outro dos temas abordados. Ainda em sede de justiça, o especialista referiu a proibição do uso medicinal, precisando que a mesma ocorreu a partir de 1941, contra os pareceres da AMA (Associação Médica Americana) e da NYAM (Acad. de Medicina de Nova lorque). Para Artur Aguiar, mais interessante para o uso da planta Canabis sativa L. e seus derivados, em medicina, foi a reclassificação levada a cabo pelas Nações Unidas, em 2020, como substâncias com “interesse medicinal”.

O conferencista explicou ainda as relações entre os fitocanabinóides da canábis (nomeadamente o CBD e o THC) e o sistema endocanabinóide presente em, praticamente, todos os animais (excetuando-se os protozoários e insetos). Foi realçado o papel importante do sistema endocanabinóide na homeostasia e regulação de múltiplos processos fisiológicos. A intervenção terminou com um apanhado das posições oficiais de diversos organismos médicos, nomeadamente a APED (Associação Portuguesa Para o Estudo da Dor), que determina que “para o tratamento da dor crónica podem ser considerados todos os medicamentos à base da planta da canábis, desde que aprovados pelo Infarmed”.

Na sua intervenção Rita Moutinho, abordou o Tema “Canábis para fins medicinais – Da Teoria à Prática”. Neste painel Foram abordados temas de grande interesse para os clínicos, desde as condições que justificam a prescrição, até às contraindicações, possíveis interações com outros fármacos e intoxicações. Não foram esquecidos aspetos práticos importantes para o doente, como os cuidados a ter com a condução de veículos ou a preparação de viagens (nos casos em que o doente pretenda continuar a terapia com canabinóides no estrangeiro). Também foram apresentados os aspetos práticos para o médico, relacionados com a informação a prestar na utilização dos vaporizadores (dispositivos médicos utilizados na administração da flor de canábis seca) e a determinação das doses diárias por doente, com a necessária diferenciação entre consumidores ocasionais ou frequentes.

Foram, ainda, realçados os obstáculos representados pela pouca oferta de produtos no mercado medicinal, nomeadamente extratos, e a não comparticipação destes medicamentos. O preço pago pela flor e pelo necessário inalador foram claramente considerados como o maior obstáculo à utilização destas substâncias. Este tema transitou, aliás, para a sessão final de perguntas e respostas, moderadas por Pedro Trincão, levando à conclusão de que a terapêutica resulta mas, o doente, na maioria dos casos, não a consegue pagar.

Texto de Eduardo Esteves

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