Sindicato dos Médicos diz que hospital de Leiria não cumpre tempos de descanso

11 de Maio 2022

O Sindicato dos Médicos da Zona Centro disse esta terça-feira que o Centro Hospitalar de Leiria está a “comprometer o descanso compensatório” dos profissionais de saúde, acusação que o conselho de administração do hospital refuta.

Apesar dos problemas já conhecidos da Urgência no Centro Hospitalar de Leiria (CHL), onde os médicos trabalham em condições extremamente desgastantes, com falhas de elementos médicos nas escalas, o conselho de administração decidiu agravar a situação, comprometendo o descanso compensatório nos oito dias seguintes ao trabalho em dias de descanso obrigatório (domingos e feriados), quando este é normal ou realizado no período noturno”, avançou ontem o Sindicato dos Médicos da Zona Centro (SMZC) numa nota enviada à Lusa.

O sindicato, que integra a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), acrescenta não compreender que “o CA do CHL tome esta atitude de desrespeito pela intenção da lei, que é a de compensar o médico de, independentemente da sua vontade, estar a trabalhar em situação de ‘stress’ e desgaste, como é o Serviço de Urgência, em dias de descanso obrigatório, de forma a permitir à população o seu merecido direito à saúde”.

A delegada sindical da FNAM em Leiria, Sandra Hilário, exemplificou à Lusa que o hospital não reconhece como direito a folga o trabalho efetuado pelos médicos aos domingos ou feriados dentro do horário tido como normal, o que “vai contra uma circular emitida pela ACSS [Administração Central do Sistema de Saúde]”.

Os turnos dos médicos de serviço que se iniciam às 20:00 de domingo também não são reconhecidos como trabalho noturno e as quatro horas realizadas (20:00 às 24:00) também “não dão direito a folga”.

Em resposta escrita à agência Lusa, o CHL “não se revê nestas afirmações e garante que está a cumprir a lei vigente de concessão do descanso obrigatório aos trabalhadores das carreiras médicas, como todas as normas legais aplicáveis à gestão das relações de trabalho, na medida em que os trabalhadores são, de facto, o mais importante desta instituição”.

A administração acrescenta que “tem mantido permanentemente o diálogo aberto com os sindicatos representativos dos profissionais e com a tutela, no sentido de esclarecer todas as questões relativas a este e a outros temas”.

Sandra Hilário adiantou que a “FNAM tem mantido reuniões com a administração” para chegar a um entendimento, mas “interrompeu” as negociações “porque não reconhecem estes direitos”.

O SMZC alerta os “médicos e os utentes para a situação alarmante que decorre em Leiria, que compromete a atratividade deste hospital para os médicos, agravando as condições de atendimento em segurança dos utentes”.

“Existe o risco cada vez maior de se repetirem os encerramentos parciais da urgência e reencaminhamento dos doentes para outros hospitais”, refere a mesma nota.

Na semana passada, o conselho ode administração do CHL admitiu à Lusa que a Urgência Geral do Hospital de Santo André, em Leiria, registou “limitações no seu acesso, verificadas na área médica, em períodos restritos e contidos”.

“O Serviço de Urgência Geral apresentou períodos com dificuldades em que, devido à sobrelotação de doentes e diminuição de recursos humanos, teve limitações no seu acesso, verificadas na área médica, em períodos restritos e contidos”, referiu o CHL, em resposta escrita enviada à agência Lusa.

Na quinta-feira, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) referiu que a Urgência Geral e a Área Dedicada a Doentes Respiratórios do hospital de Leiria esteve sem resposta 42 períodos este ano. Um período corresponde a um turno de 12 horas.

A SRCOM especificou que foram 12 períodos em abril, oito em março, sete em fevereiro e 15 em janeiro, ressalvando que, “nalguns destes períodos críticos, têm sido asseguradas, entre outras, as respostas em ortopedia, pediatria, ginecologia/obstetrícia e cirurgia”.

O CHL, que integra os hospitais de Leiria, Pombal e Alcobaça, explicou, à data, que “nestes momentos específicos foram reencaminhados doentes para outros centros hospitalares, tal como acontece noutras alturas o CHL receber doentes de outras unidades hospitalares, dado que os hospitais do SNS [Serviço Nacional de Saúde] funcionam em rede”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights