Jaime C. Branco Diretor do Serviço de Reumatologia no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE. - Hospital de Egas Moniz; Professor Catedrático da NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa; Candidato a Bastonário da Ordem dos Médicos

O que um autarca mal-informado deve saber

05/26/2022

Breves notas a um certo autarca socialista para que, de futuro, não cometa deploráveis afirmações como as que lhe ouvimos nas últimas horas.

Disse o presidente da Câmara de Odivelas num fórum público (e sabendo que estava a ser filmado) ser “contra o aumento da valorização da carreira médica” porque daí sairiam para o privado. Aponte, pois, que o formato de gestão atual é mau – e aí, sim, estão gastos ineficazes que não só desvalorizam os médicos do Serviço Nacional de Saúde, como custam milhões aos bolsos de todos os portugueses. À falta de uma política de recursos humanos adequada, recorrem-se aos serviços médicos subcontratados, com os quais o Estado gastou mais de 142 milhões de euros em 2021.

Se adicionar as horas extra feitas pelos médicos, esta prova da ineficiência da gestão dispara para os 530 milhões.

Seria, portanto, bem mais barato pagar melhor aos médicos para que não abandonassem o SNS ou até contratar mais profissionais, abrindo vagas.

Sugeriu também este responsável autárquico que os médicos deveriam conhecer o desemprego. Mais um dado que deve registar: o desemprego médico existe, uma vez que todos os anos cerca de 30% dos Médicos recém-formados não têm vaga no SNS.

É triste e preocupante que alguém, para mais um presidente de câmara, assim pense e proponha.

Estas são talvez as maiores enormidades que ouvi em quase 44 anos de profissão. Defenderei sempre, como aqui faço, a nossa nobre profissão daqueles que a procurem apoucar.

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