A UC informou, numa nota enviada à agência Lusa, que uma equipa da Faculdade de Medicina “está a estudar possíveis mecanismos de evasão imunitária que limitam o sucesso da imunoterapia no cancro da bexiga”, lançando as “bases para o desenvolvimento” de novos medicamentos nesta área.
Está em causa a necessidade de combater um “tipo de tumor que, em fase avançada, tem uma elevada taxa de mortalidade”.
Com “caráter translacional e multidisciplinar”, o estudo “Inibição da via da adenosina – uma nova abordagem para potenciar a imunoterapia no cancro da bexiga avançado” está a ser desenvolvido, desde 2019, em parceria com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o Centro Hospitalar de Leiria e o Hospital CUF de Coimbra.
Através de diversos mecanismos, o cancro da bexiga, mais comum nos homens, “consegue ludibriar e inibir a ação do sistema imunitário do organismo, o que lhe permite crescer sem ser destruído pela ação das células imunes”, explicou o investigador e médico Frederico Furriel.
“O nosso projeto centra-se num desses mecanismos para escapar ao sistema imunitário, que está ligado ao metabolismo da adenosina e que pensamos ser uma das formas através das quais o cancro da bexiga limita a ação dos mecanismos de proteção naturais, reduzindo ainda a eficácia dos fármacos de imunoterapia já utilizados hoje em dia”, adiantou.
Estes fármacos, segundo o urologista, “têm eficácia de apenas 20 a 30% e isso sucede certamente porque há outras formas através das quais o tumor procede à imunoevasão, nomeadamente a via da adenosina”.
“Os resultados já obtidos, baseados em análises de amostras clínicas de doentes, evidenciam que o crescimento do cancro da bexiga se faz acompanhar de uma profunda alteração do microambiente, no sentido de uma maior imunossupressão, o que evidentemente é favorável ao tumor”, salientou.
Por outro lado, afirmou Frederico Furriel, conseguiu-se “identificar uma maior expressão da via da adenosina no microambiente tumoral por comparação ao tecido normal”.
“Existe uma correlação entre estes factos: quanto maior é a expressão da via da adenosina, maior é a imunossupressão, o que aponta no sentido da nossa hipótese”, esclareceu.
A equipa da UC está agora a efetuar estudos “com um maior número de doentes para confirmação destas descobertas e, também, para tentar encontrar, no sangue periférico dos doentes, algum tipo de assinatura imunológica” que permita dar uma indicação “da atividade da via da adenosina no microambiente tumoral”, acrescentou Frederico Furriel, investigador principal do projeto.
Ao mesmo tempo, os cientistas também “estão a estudar e manipular experimentalmente a ação da via da adenosina sobre o cancro da bexiga num ambiente controlado, num modelo animal”.
Estes estudos decorrem no Institute for Clinical and Biomedical Research (iCBR) da Faculdade de Medicina de Coimbra.
Financiada através de bolsas pela Associação Portuguesa de Urologia e pela CUF, a investigação poderá “lançar as bases para o desenvolvimento e utilização, após ensaios clínicos rigorosos, de fármacos específicos para a via da adenosina, quer em monoterapia quer associados a outros já existentes, levando, em última análise, à melhoria do prognóstico dos doentes com cancro da bexiga”.
Além de Frederico Furriel, fazem parte da equipa os investigadores Belmiro Parada, Célia Gomes, Margarida Pereira, Hugo Ferreira, Paula Laranjeira, Vítor Sousa e Artur Paiva.
LUSA/HN
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